ENCONTRO REÚNE PROFISSIONAIS DO MERCADO PARA DEBATER DESAFIOS E OPORTUNIDADES DE INVESTIMENTO EM FUNDOS DE INVESTIMENTO EM DIREITOS CREDITÓRIOS (FIDCs).
Com seus treze anos de vida, o FIDC (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios) ainda é um produto “adolescente” no mercado de capitais brasileiro, mas com preocupações e responsabilidades de “gente grande” para atingir seu potencial de crescimento no país, como mostrou o 2º. Encontro Nacional da ANFIDC, associação cujo objetivo é desenvolver e modernizar o segmento de FIDCs Multicendentes e Multissacados no Brasil.
Único evento dedicado exclusivamente ao mercado de FIDCs Multicedentes e Multissacados no país, o 2º Encontro ANFIDC ocorreu no último dia 6 de abril, no Renaissance São Paulo Hotel, com a presença de 325 pessoas – 61% de participantes a mais do que o 1º Encontro ANFIDC. Essa participação demonstra o interesse cada vez maior dos stakeholders do setor de FIDCs, o envolvimento das empresas associadas e dos parceiros estratégicos, que apoiaram a realização do evento.
Com o objetivo de debater a indústria dos Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios Multicedentes e Multissacados, incentivar o desenvolvimento do setor e compartilhar conhecimento, o evento foi um verdadeiro encontro de valor para evolução do mercado.
O 2º Encontro ANFIDC reuniu executivos e profissionais do setor investidores, clientes, parceiros, líderes de opinião e a imprensa especializada para discutir os rumos e tendências do segmento de FIDCs – uma importante ação de relacionamento e uma grande oportunidade para divulgar e fortalecer o negócio de FIDCs no Brasil.
O presidente da ANFIDC, Paulo Schonenberg, abriu o evento falando sobre sua satisfação de receber um público acima do esperado no evento, agradeceu o apoio dos parceiros estratégicos – Socopa, Quick Soft, XP Investimentos, Siegen, Vórtx, Finaxis, Teixeira Fortes, Tercon, PVG, Standy By, KCB Advogados, Solis Investimentos, RGBSys, CERC, Valora Investimentos, Serasa Experian e Ouro Preto – e ressaltou a evolução e desenvolvimento do setor de FIDCs.
Paulo Schonenberg reforçou que os “FIDCs são uma das opções de investimento que mais crescem no país, contudo, ainda é pouco conhecimento do mercado”. Falou sobre a “oportunidade de debater, ampla e democraticamente, com os stakeholders de todas as atividades e segmentos do setor: investidores, administradores, gestores, reguladores, agências de rating, especialistas em direito dos FIDCs” – uma discussão rica de todos os pontos de vista.
No evento, especialistas debateram, através da dinâmica de painéis, temas importantes para o segmento, como: Potencial de Investimentos dos FIDCs, Governança e Regulação do Mercado de FIDCs e Riscos e Riscos e Grau de Investimentos em FIDCs.
O aumento do número de participantes é mais um sinal do interesse crescente que o segmento vem despertando no mercado de capitais. No entanto, conforme questões levantadas neste 2º Encontro, além dos problemas macroeconômicos, como a elevada taxas de juros praticada no país e a redução das operações de crédito, decorrentes da crise econômica, ainda existe muita coisa a ser melhorada no universo dos FIDCs, para que o segmento atinja seu real potencial de crescimento.
Como apontou Marcelo Ferraz, gerente de mercado de capitais da XP Investimentos, palestrante do evento, este ano existe uma demanda maior para investimentos em FIDCs, mas ainda aquém do potencial desse mercado, decorrentes não só da crise, mas também de gargalos que inibem seu desenvolvimento.
Segundo ele, entre 2015 e 2016, as atividades do segmento de FIDCs sofreram uma retração devido à elevação das taxas de juros e retração do crédito. “Não houve interrupção da captação, mas ela diminuiu e ficou aquém do que o mercado pode comportar”. Entre os gargalos para o desenvolvimento da indústria de FIDCs, citou questões como: dificuldades na monitoração das operações, redução de riscos, lastro, securitização e a disponibilidade de investidores.
Conforme observou, no momento a disponibilidade de investimentos é sim um dos fatores que dificultam o crescimento da indústria de FIDCs. No caso da securitização, há obstáculos como liquidez, diversificação de riscos, além do fato do mercado secundário ser pouco desenvolvido.
Existiriam ainda outras pedras no caminho do pleno desenvolvimento da indústria de FIDCs. Entre elas, mecanismos ágeis de proteção de crédito, custo da operação e regulamentação, questões que também foram debatidos no Encontro, que este ano colocou em pauta os seguintes temas potencial de investimentos, governança e regulação do mercado, riscos e classificação do grau de investimentos em FIDCs.
Lastro e inadimplência
Entre as melhorias para o crescimento do segmento, Ferraz aponta práticas como: ser rápido em tomar providências se houver qualquer problema com a carteira, maior disponibilização e análise dos dados, transparência e homogeneidade nas carteiras, avaliação profunda do lastro. “É importante ser prático sobre como operacionalizar o lastro”.
Na avaliação de Marcelo Urbano, sócio da GPS, a primeira preocupação no lançamento de um FIDC é avaliar bem o lastro. Para ele, no entanto, essa prática tem sido negligenciada. “É preciso ter certeza de que o lastro existe. Se o que o gestor diz que está na carteira do fundo, de fato está. Enquanto isso não ficar muito claro para quem atua no segmento será difícil crescer”.
No caso da regulamentação, Urbano defende que não se pode fechar muito a atuação do gestor. A regulação deve elencar princípios a serem seguidos para permitir que o gestor mostre seu talento. “O gestor precisa se diferenciar pelo talento e, para isso, não pode ter suas mãos amarradas por uma infinidade de regras detalhistas”. Se houver transparência em fidúcia não haverá problema, acrescenta.
No momento o maior entrave ao crescimento da aplicação em FIDC é o tamanho da taxa de juros praticada no país, diz o gestor. “Enquanto os juros estiverem altos, ninguém bate a aplicação em CDI, e esse é um obstáculo para investimentos em outros produtos, como os FIDCs”.
Diego Coelho, sócio e gestor da Valora, acrescenta mais um ingrediente ao debate, a volatilidade. “O investidor não aceita volatilidade e para tomar risco quer rendimento acima do CDI”. Para ele, esse é um importante X da questão. Outro X é o lastro. “O maior risco é saber se os cedentes são empresas reais, e se a operação tem lastro”.
A recomendação de Coelho para o sucesso é ter uma equipe que faça o monitoramento das carteiras. “Esse é o trabalho que o investidor busca no gestor da carteira para aceitar investir”. Ele também afirmou que administradores que têm esse negócio como nicho dão melhores resultados que outros. No restante, observa que o FIDC é um investimento interessante e tem um regulamento apropriado.
Mais transparência
Antônio Lara, sócio da Solis Investimentos, ressaltou que o FIDC tem um ambiente regulatório muito bom, mas disse que a uniformização da regulação deveria levar em consideração o impacto dela sobre o custo da operação. E ainda, que a transparência precisa ser melhor trabalhada.
Na avaliação dele, é necessário ampliar a lâmina sobre questões como a subordinação ao Patrimônio Líquido, por exemplo. “Olhar a subordinação diária deveria ser mandatória”. Para a alavancar o desempenho do segmento, Lara acrescenta como práticas relevantes, a padronização de informações e a educação do investidor.
Daniel Doll, diretor de recursos de terceiros da Socopa, destacou a importância do fiduciário, do lastro e do Manual de Boas Práticas para evitar perdas e reduzir riscos da aplicação em FIDCs. O principal diferencial para uma boa gestão é ter uma boa avaliação do lastro.
Conforme observou, “se tivesse o cadastro do cedente com regras mínimas, o caso Silverado (gestora de fundos de investimento, que foi alvo de fraudes, resultando em perdas para seus aplicadores) não teria acontecido”. Na avaliação dele, os maiores problemas são de fraude e de originação. “Perdas por crédito fazem pare do risco, perdas por fraude não”.
Evolução positiva
Ricardo Mizukawa, presidente do Comitê de FIDCs da Anbima, destacou a complexidade do produto e a necessidade de especialização para atuação nesse mercado. Segundo ele, para atuar precisam ser observados mecanismos como a padronização de normas, das lâminas, informes da CVM, do material de venda e da distribuição dos produtos.
Apesar dos ajustes que acredita ainda sejam necessários para o crescimento da indústria de FIDCs, Mizukawa afirma que o FIDC é um produto bem-sucedido. Nos últimos 15 anos, o produto evoluiu de forma positiva e a maioria deu certo. Apenas 1% de série emitidas geraram perdas para os investidores. “Como investidor de FIDC nunca tive problema algum”. De 2008 para cá, houve um trabalho intenso de aperfeiçoamento do segmento e as demonstrações financeiras sofreram avanços significativos, acrescentou.
Fernando de Marsillac, sócio da CERC, destacou a necessidade de haver uma distinção de tratamento na adesão das práticas de governança no segmento de FIDCs como aconteceu no mercado de ações. Para Marsillac, a governança evoluiu muito nesses 15 anos de vida dos FIDCs e se subir muito a barra para todo mundo, o produto pode se tornar muito oneroso. “Modelos determinísticos não vão ajudar numa indústria como a nossa”.
Ele defende a disponibilização e acesso a informação para agregar valor aos processos de regulação. Essa é uma das condições para que o gestor, o consultor e o fiduciário possam ter melhor supervisão do mercado. Marsillac questionou práticas como a verificação do sacado. “Até que ponto é viável a verificação do sacado?”, perguntou. Não há outro caminho que não seja de disponibilização e análise de dados, citou.
Regras mais claras
Palestrante do Encontro, Bruno de Freitas Gomes, gerente de acompanhamento de fundos estruturados da CVM, disse que a partir de 2014, as regras ficaram mais claras e a expectativa é de melhoria crescente do mercado. Na avaliação dele, porém, mais do que qualquer outra questão, no momento, as elevadas taxas de juros são os maiores empecilhos ao aumento da demanda pelo produto. Os FIDCs foram regulamentados pela Instrução 356/01 da CVM, e tiveram suas regras alteradas pela Instrução CVM 531/13.
Conforme Freitas Gomes, atualmente estão em discussão na CVM vários pontos que dizem respeito ao mercado de FIDCs, entre eles, permissão de guarda de documentos comprobatórios pelo cedente, aquisição de direitos creditórios de sociedades em recuperação judicial e outros pontos previstos no ofício Circular nº 2 de 2015 e circular nº5 de 2014. Também estão sendo discutidos entendimentos pós a instrução CVM 531.
Nos entendimentos pós instrução CVM 531 estão em discussão questões como: administrador como contraparte do fundo, que permitiu a realização de operações entre o FIDC e seu administrador para fins exclusivos de melhor gerenciamento de caixa, mas não se estendeu aos demais prestadores de serviço. E ainda, atribuições do consultor especializado e a vedação à adiantar recursos aos cedentes para reembolso pelos FIDCs.
Outra questão é quanto à decisão do Tribunal de Contas da União sobre o FIDC-NP (fundo de investimento em direitos creditórios não padronizados). A CVM está impedida de registrar FIDC-NP, cuja política de investimentos possibilite a aquisição de créditos originados por entes públicos, onde o ente não possua autorização do Ministério da Fazenda para realizar operações de crédito, nos termos previstos na Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar 101).
Tal decisão também se estendeu aos demais FIDCs, onde a CVM entenda que as características dos recebíveis a serem adquiridos os enquadrem no conceito de operação de crédito, nos termos da LRF, observou.
Tipos de FIDCs
Os Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios são uma alternativa de investimento de baixo risco e longo prazo, que vem atraindo a atenção dos investidores, devido à sua alta rentabilidade em relação a outros tipos de investimentos similares.
O FIDC antecipa os recursos do “contas a receber” de uma empresa, sem impacto no seu endividamento.
Dentro do segmento dos FIDCs, existem os Multicedentes e Multissacados que visam aplicar recursos em recebíveis, originados de operações nos segmentos comercial, industrial e de prestação de serviços, com muita flexibilidade.
Quando um FIDC MM compra uma carteira de recebíveis de uma empresa, ela está adquirindo o direito de receber o pagamento futuro dos seus clientes, pagando um valor com desconto à vista.
Esse tipo de operação ajuda a empresa a ajustar seu capital de giro e operar de forma saudável.
Os fundos podem ser abertos (em que os cotistas podem solicitar o resgate de suas cotas em um período determinado pelo próprio investidor), ou fechados (as cotas somente são resgatadas ao término do prazo de duração da emissão da série, ou em virtude de sua liquidação). Sua carteira é constituída de recebíveis (direitos creditórios de terceiros), provenientes dos créditos que uma empresa tem a receber, como duplicatas, cheques, cartões de crédito, leasing, financiamentos imobiliários e outros.
Conjuntura e Cenário Econômico
“Sair da crise não significará voltar a crescer. Pode haver alguma recuperação do que foi perdido nos últimos anos, mas uma retomada do crescimento só pode ser esperada a longo prazo”. A afirmação foi feita pelo economista e professor do Insper, Marcos Lisboa, convidado do 2º. Encontro Nacional da Anfidc, para falar sobre cenário econômico e conjuntura atual.
Para embasar sua análise o economista apresentou vários dados estatísticos e conclusões de estudos que relacionam crescimento ao aumento da produtividade. Nessa análise, um dos principais desafios ao crescimento do país está no comportamento da sua produtividade.
Desde 2010, a evolução da produtividade brasileira tem sido significativamente pior do que nos demais países. Essa situação, conforme o professor, foi provocada pelos impactos negativos sobre a produtividade do país causados pela prática de políticas protecionistas, reservas de mercado e créditos subsidiados para determinados setores, e insegurança de marcos regulatórios.
Essas práticas afetaram por exemplo, a relação entre entradas e saídas de empresas do mercado, um dos termômetros da produtividade. Segundo o professor, tem saído poucas empresas e a permanência de empresas ineficientes, reduz a produtividade e a geração de empregos. Nos Estados Unidos, a relação entre saída e entrada de novas empresas responde por 80% da criação e distribuição de produtos e serviços.
A produtividade também foi impactada negativamente pela falta de qualidade e insegurança jurídica, sistema tributário disfuncional, complexa legislação trabalhista. “Países com um judiciário de qualidade e mercado de capitais bem desenvolvidos têm mais condições para crescer que os que não possuem isso, como o Brasil”. O comprometimento da produtividade faz com que a qualidade dos nossos serviços de alta tecnologia seja igual ao de baixa tecnologia no resto do mundo, destacou.
Quanto às reformas que estão sendo propostas pelo atual governo, Lisboa afirmou que a Reforma da Previdência está atrasada há 30 anos e que não há mais tempo para protelações. Para ele, o maior problema não está na reforma em si, mas na maneira como o debate está sendo conduzido, o que não está ajudando na compreensão da gravidade da situação e na emergência da reforma.
Sobre a reforma tributária, ele chama a atenção para a necessidade de desburocratização e simplificação. “Simplificação e previsibilidade das regras tributárias como: único IVA com mesma alíquota para todos os setores e crédito financeiro; fim de regimes especiais; imposto de renda progressivo sobre as famílias e com menor alíquota sobre empresas; fim da revisão das normas com impacto retroativo”.
Na mudança trabalhista afirmou que o problema não é de direitos. “O problema é a complexidade da lei que engessa a geração de novos empregos”. O economista defende uma reforma trabalhista com previsibilidade das regras CLT, e possibilidade de negociações coletivas se sobrepor a parte da CLT.
Outro ponto relevante para o crescimento é com relação ao comércio exterior. De acordo com Lisboa, existe evidência crescente de que a abertura comercial aumenta a produtividade por meio do maior acesso a bens de capital e insumos mais eficientes no mercado externo.
Entrevista: Paulo Schonenberg - Presidente da ANFIDC
Os chamados FIDCS MM – Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios Multicedentes e Multissacados têm dado grande contribuição ao mercado como uma alternativa de crédito para empresas de pequeno e médio portes, que representam mais de 90% das empresas no país, além de serem uma grande fonte de empregos. Apesar da crise financeira, os FIDCs MM têm potencial para crescer até 10% este ano, destaca Paulo Schonenberg, presidente da Anfidc- Associação Nacional dos Participantes em Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios Multicedentes e Multissacados.
Criada em 2009, a Anfidc tem como objetivo incentivar o desenvolvimento do mercado de FIDCs MM e contribuir para o aumento do volume de negócios, além de representar o setor e profissionais dos fundos no país. Na entrevista, Schonenberg – que é graduado em engenharia mecânica e foi executivo do Banco Safra, do qual se desligou em 1993 para fundar o Grupo Sifra, onde atualmente é CEO – disse também que em 2016, apesar das dificuldades econômicas, o setor cresceu 12,64% no ano e hoje tem aproximadamente R$ 12 bilhões, em patrimônio líquido.
A seguir acompanhe a entrevista exclusiva concedida pelo presidente da Anfidc à Revista RI:
RI: Os FIDCs ainda são um segmento relativamente novo no mercado de capitais brasileiro. Qual a contribuição do segmento para o crescimento e fortalecimento do mercado de capitais no país?
Paulo Schonenberg:Os FIDCs têm dado grande contribuição ao mercado como uma alternativa de crédito para empresas de pequeno e médio portes, que representam mais de 90% das empresas no país, além de serem uma grande fonte de empregos. Portanto, a contribuição dos FIDCs na democratização de crédito é enorme. Existem FIDCs de vários segmentos: crédito consignado, estudantil, fornecedores de cartões de crédito e agora mais recentemente o de infraestrutura. É uma forma consagrada de alternativa de crédito, de desintermediação financeira. Fora do Brasil esse tipo de fundo é uma alternativa relevante de crédito fora do sistema bancário tradicional.
RI: Como o senhor avalia o potencial de crescimento do segmento de FIDCs no curto e médio prazos? Pode haver crescimento ainda este ano, apesar da crise político econômica? Que consequências da crise mais afetaram o segmento?
Paulo Schonenberg:Os FIDCs MM têm potencial para crescer este ano até 10% apesar da crise econômica. Nos últimos cinco anos, a média de crescimento do setor foi de 18% ao ano, por exemplo. Em 2016, apesar das dificuldades econômicas, o setor cresceu 12,64% no ano. Projetando os próximos três anos, acreditamos num crescimento médio da ordem de 15% ao ano.
RI: Qual o montante atual aplicado em FIDCs? E quais os principais gargalos para aumentar o investimento nesse segmento?
Paulo Schonenberg:Os FIDCs MM representam hoje aproximadamente R$ 12 bilhões (em patrimônio líquido) – é um número expressivo! Entendemos como gargalos de crescimento o reduzido número de participantes de administradores, custodiantes e agências internacionais de classificação de risco.
RI: Qual a importância da Anfidc para a indústria de FIDCs? Nesse sentido, quais as iniciativas já realizadas e quais as principais metas da atual direção da associação?
Paulo Schonenberg:A importância da ANFIDC está traduzida na representação institucional junto ao mercado de capitais, a entidades como ANBIMA e Comissão de Valores Mobiliários (CVM), principalmente. Ao mesmo tempo, está sendo desenvolvido um trabalho de esclarecimento, junto ao Judiciário e demais setores da sociedade civil, informando as características dos FIDCs MM, ainda muito pouco conhecido do grande público. As iniciativas da nossa gestão foram desde a participação no questionário de contratação do consultor de crédito pelo Administrador proposto pela ANBIMA, como a criação do Manual de Melhores Práticas para custodiantes e administradores, que está em análise final na ANBIMA. Mais recentemente, iniciamos um grupo de trabalho para apresentar o Manual de Melhores Práticas do consultor de crédito, para aderência dos nossos associados, com a participação na confecção deste Manual de Administradores e Investidores atuantes no segmento.
RI: Este é o segundo ano que a Anfidc promove um Encontro Nacional do segmento. Qual sua avaliação desse encontro em relação ao primeiro?
Paulo Schonenberg:Foi um encontro bastante profícuo e democrático, fizemos um amplo debate de temas relevantes, com participação dos vários stakeholders da indústria. Estavam lá discutindo a CVM, a ANBIMA, investidores, administradores, custodiantes e executivos do setor, trazendo ao debate temas como as novas ferramentas de prevenção de fraudes, critérios das agências de classificação de risco e segurança dos investidores, entre outros. Além disso, o encontro surpreendeu pela grande presença do público especializado, superior a do encontro anterior, mostrando o interesse que a indústria de FIDCs MM tem hoje no mercado. Outro ponto relevante, que também mostra o interesse crescente pelo produto, foi o número bastante significativo de patrocinadores.
RI: Participantes do 2º Encontro da Anfidc manifestaram preocupação com um possível engessamento da indústria de FIDCs por conta da regulação do setor, que está a cargo da CVM (Comissão de Valores Mobiliários). Estão previstas mudanças na regulação ainda este ano? Na sua opinião, o que ainda precisa ser feito para melhorar a performance do segmento?
Paulo Schonenberg:Na apresentação do Bruno Gomes, gerente de acompanhamento de Fundos Estruturados – GIE, não foi mencionado qualquer mudança na regulação para este ano. Acreditamos que a Instrução CVM 531 é suficiente para a regulação do segmento, acrescida da implantação do Manual de Melhores Práticas, desenvolvido pela ANFIDC, mencionado anteriormente e em análise final na ANBIMA.
RI: Para o investidor, quais os principais riscos da aplicação em FIDCs e o que existe para minimizá-los. Na sua avaliação, medidas como a coobrigação contribui para redução de riscos para o investidor? Como avalia a medida?
Paulo Schonenberg:Para aplicar em FIDCs MM, o investidor deve conhecer a estrutura de subordinação para ter o melhor entendimento do setor, a clareza das operações, conhecer os processos e estrutura do consultor de crédito para se proteger do risco e para se prevenir de fraudes. Isso vale para qualquer investimento. A coobrigação já é prática no mercado e ameniza o risco de crédito, auxiliando no controle da inadimplência da carteira do Fundo.
RI: Que lições a quebra do Silverado trouxe para os gestores e investidores em FIDCs? Que controles de risco já existem ou deveriam existir para evitar casos como o Silverado?
Paulo Schonenberg:As lições estão endereçadas no Manual de Melhores Práticas em análise, onde fica transparente a estrutura de subordinação, controles pelos administradores dos cedentes aptos a operarem no Fundo e monitoramento da carteira cedida diariamente com prevenção de fraudes em operações atípicas. No caso Silverado, a estrutura de subordinação era composta de fundos de fundos. Quando procuraram o detentor das cotas, o valor das cotas em poder dos sócios do Silverado era pequeno, demonstrando desalinhamento com os investidores. Outra questão importante foi com relação à pré-seleção dos cedentes que no caso não foi feita adequadamente.
RI: Que tipo de investidor tem sido mais atuante nesse mercado? No Encontro foi comentado que, dada sua complexidade, o FIDC não é para pessoa física. Qual sua avaliação sobre isso?
Paulo Schonenberg:Os investidores mais atuantes são aqueles que conhecem o mercado de desintermediação financeira, são especializados e sabem avaliar a qualidade da carteira do Fundo, seus regulamentos específicos. Acredito que as propostas do Manual de Melhores Práticas são adequadas, esclarecedoras e interessantes para o investidor pessoa física qualificado. Os investidores têm considerado os FIDCs MM como um investimento extremamente interessante, financeiramente vantajoso e seguro, e as empresas de rating têm feito uma boa avaliação do produto. Para o investidor pessoa física que seja um investidor qualificado a equação de risco x retorno é muito boa. Sendo um investidor qualificado, entendo que está preparado para fazer a avaliação do produto. Entendemos que o produto é tão bom e seguro e tão bem regulamentado e protegido pela subordinação que deveria alcançar o grande público.
RI: Esses fundos podem receber aplicação de investidores estrangeiros? Qual a participação deles em relação aos investidores locais?
Paulo Schonenberg:Sim. Os FIDCs MM podem receber aplicação dos investidores estrangeiros – não há qualquer impedimento. Atualmente, a participação ainda é pequena. Contudo, com a maior divulgação do produto, a melhora das condições macroeconômicas e consequentemente do crédito corporativo, essa participação tende a aumentar.
RI: Como avalia as discussões sobre a questão do lastro, inclusive pela CVM?
Paulo Schonenberg:A questão do lastro endereçada na Instrução CVM 531 é, na minha opinião, suficiente para assegurar a qualidade dos recebíveis cedidos aos Fundos – o que é importante para aperfeiçoar são os controles dos administradores/custodiantes, no monitoramento.
RI: Qual a importância da contração de consultores de crédito para a formatação de FIDCs?
Paulo Schonenberg:É fundamental para os FIDCs MM a contratação de um consultor de crédito/gestor especializado no segmento, conhecedor da concessão de crédito e monitoramento dos riscos dos recebíveis comerciais cedidos ao Fundo. Esse assunto está muito bem equacionado no Questionário de Contratação do Consultor de Crédito pelos administradores, aprovado recentemente e divulgado pela ANBIMA – inclusive distribuído aos presentes no 2º Encontro Nacional ANFIDC –, e em processo de implementação.
RI: Qual é o papel e como tem sido a atuação das empresas de rating no segmento?
Paulo Schonenberg:As empresas de rating têm o papel importante na qualificação do risco de crédito do Fundo, avaliando o regulamento e o “track record” da consultora/gestora de crédito e designando assim como as camadas de proteção necessárias para o investidor, na medida do risco que desejam ter – elas são essenciais para ajudar a diferenciar o risco de um Fundo para outro. Acredito que as agências podem aperfeiçoar seus instrumentos de classificação das carteiras, há espaço para isso.
RI: Como está a elaboração do Manual de Melhores Práticas? E como espera que ele ajude o segmento?
Paulo Schonenberg:Como disse antes, o Manual de Melhores Práticas, proposto pela ANFIDC para administradores e custodiantes, está em fase final de aprovação nos Comitês da ANBIMA, devendo ser concluído em meados do segundo semestre de 2017. O Questionário para Contratação dos Consultores de Crédito pelos Administradores, que está no prazo de 90 dias determinado pela ANBIMA, deve ser concluído até esse mês de junho. Creio que a implementação dessas práticas irá proporcionar maior segurança aos investidores, na prevenção de fraudes e transparência das carteiras que compõem os Fundos, e ampliar o universo de investidores no segmento e de novos players na custódia e administração de FIDCs MM.