Orquestra Societária

MODELO DE GESTÃO & ESTRATÉGIA

Na edição anterior (RI-Maio.2017), discorremos sobre a Estratégia e o processo da Administração Estratégica, identificando ferramentas de diagnóstico e formulação, com base nas Teorias da Estratégia, e antecipamos que o Modelo de Gestão materializa a Estratégia em resultados sustentáveis.

Nesta edição, retomamos o Modelo de Gestão, presente na Orquestra Societária. As duas perguntas que norteiam este artigo são as seguintes:

1. Como um Modelo de Gestão impacta a Estratégia e as demais dimensões da Arquitetura Organizacional (Estrutura, Processos, Pessoas e Sistema de Recompensas), representadas na figura?

2. Qual é a essência de um bom Modelo de Gestão, ou seja, quais são os fundamentos que o tornam eficaz?

Para nos ajudar a responder essas questões, convidamos o sócio líder de Financial Management da KPMG para a América do Sul, Sérgio Bento Silva, a participar desta edição. Altamente qualificado para falar sobre o tema, Sérgio Bento concedeu-nos a entrevista vista nas páginas seguintes, que versa sobre Modelos de Gestão e sua contribuição para que organização caminhe com segurança na direção do futuro. Após a citada entrevista, identificamos, em um quadro-resumo, as principais conexões entre o Modelo de Gestão e as dimensões da Arquitetura Organizacional, de acordo com a visão do executivo, a fim de que os nossos leitores possam acompanhar as nossas reflexões subsequentes e respectivas conclusões.

ENTREVISTA:
Sérgio Bento Silva, Sócio líder de Financial Management da KPMG para a América do Sul

Sérgio Bento Silva é sócio da KPMG no Brasil, na prática de Management Consulting. É formado em Ciências Contábeis, registrado no Conselho Regional de Contabilidade (CRC) em São Paulo, com pós graduação em Gestão Empresarial pela FGV-RJ e especialização em Liderança de Empresas de Serviços pela Harvard Business School, Boston (EUA).

Com mais de 30 anos de experiência profissional, sendo 27 deles em auditoria e consultoria, Sérgio lidera a prática de Financial Management na KPMG para a região América do Sul. Esteve, por sete anos, na área de Auditoria, e por dois anos no escritório de Nova Iorque, liderando a prática de Risk Management para Advisory na América Latina.

Hoje, Sérgio Bento lidera três unidades de negócios na KPMG e é sponsor do programa de competição internacional de estudantes (KICC- KPMG International Case Competition) patrocinado pela KPMG Global. Acompanhe a entrevista.

RI: Qual é o conceito efetivo de Modelo de Gestão, em sua opinião?

Sérgio Bento Silva: Um Modelo de Gestão pode ser visto como uma espécie de leme de um barco ou avião que dá a direção, executando correções de rota quando isso se torna necessário. O modelo de gestão leva em conta também a cultura da empresa, a maturidade da governança instalada e a estrutura sistêmica e orgânica das organizações. Acredito no modelo de gestão participativa, com indicadores de performance muito bem definidos e com monitoramento constante. Uma vez adotado esse conceito, entendo serem fundamentais a flexibilidade e a agilidade nas tomadas de decisões, para garantir o resultado esperado e previamente planejado. Se a previsão dos resultados a serem atingidos não indica um alinhamento com o plano inicial, é imprescindível fazer correções de rota em tempo hábil ou mesmo em tempo real.

RI: Quais são os principais requisitos de um Modelo de Gestão robusto, que garanta às empresas do presente alcançarem um futuro com resultados significativamente positivos nas equações fundamentais da Orquestra Societária?

Sérgio Bento Silva: Para que se atinjam resultados significativos nas equações da Orquestra, o Modelo de Gestão deve ter clareza tanto sobre os objetivos estratégicos a serem atingidos quanto sobre os papéis e responsabilidades das pessoas nas organizações. O modelo participativo facilita o buy-in e permite uma discussão mais ampla sobre como as metas serão atingidas, qual o nível de autonomia que os líderes intermediários terão, e como o sucesso será mensurado e reconhecido. Para tais iniciativas, ter KPI´s (Key Performance Indicators) que demonstrem a evolução das ações, que mensurem o sucesso e que sejam abrangentes o suficiente para mostrar o desempenho das pessoas e das áreas é fundamental, além de haver um monitoramento constantemente. Sem esses requisitos básicos, as chances de os objetivos estratégicos não serem atingidos aumentam e dificultam as atividades de gestão pelos líderes.

RI: O que é mais importante em um Modelo de Gestão: Planejamento & Controle ou o Exercício da Liderança para atingir o nível de uma verdadeira Orquestra Societária? E quais são as dimensões fundamentais que o suportam (Estrutura, Processos, Tecnologia, Pessoas, Sistema de Recompensa, boas práticas de governança e sustentabilidade, em ordem de importância)? 

Sérgio Bento Silva: Entendo que tudo tem seu nível de importância. Sem planejamento e sem controle, o risco de os objetivos estratégicos não serem atingidos é grande. Ao mesmo tempo, o exercício da liderança significa orientar e apoiar os liderados com ética e valores, fazendo com que eles cresçam, com que atinjam suas metas, criando, assim, a perenidade das organizações. Não tenho dúvida de que as pessoas vêm sempre em primeiro lugar no grau de importância de qualquer organização, em seu Modelo de Gestão. Não há processos, tecnologia ou governança que dê solução em situações de pessoas antiéticas, mal treinadas, descomprometidas ou despreparadas para suas funções. Já um sistema de recompensas adequado impulsiona as pessoas a serem atores ativos na busca pelo alcance dos objetivos pessoais que devem estar alinhados aos objetivos estratégicos organizacionais. Governança, sustentabilidade, estrutura adequada e sem personogramas, processos eficientes e tecnologia são ferramentas que facilitarão o trabalho, para que as boas pessoas, ou seja, aquelas com as qualidades aqui citadas, executem seus trabalhos de forma eficiente. Por fim, iniciativas sustentáveis podem alinhar alguns dos valores da empresa com os valores pessoais.

RI: Por que os modelos de gestão podem fracassar? Como mitigar os riscos de fracasso?

Sérgio Bento Silva: Eles podem fracassar, principalmente, por falta de comprometimento de pessoas geridas. Isso acontece por má comunicação, falta de alinhamento entre os valores da empresa e os valores dos indivíduos, além da falta de clareza da estratégia e das metas de curto, médio e longo prazo. Esse risco é mitigado aplicando os conceitos que comentei anteriormente. As pessoas precisam se sentir comprometidas com o sucesso da companhia, o nível de colaboração deve ser alto e o senso de ownership sobre aquilo que está sob o seu comando deve estar presente em todos. Outro fator que pode representar risco para o sucesso do modelo de gestão é o conflito de interesses quando um líder assume dois papéis. A isenção no momento da tomada de decisões é fator chave na diferença entre uma decisão acertada ou uma decisão equivocada.

RI: Quais são os principais entraves e resistências à implantação de um Modelo de Gestão efetivo?

Sérgio Bento Silva: Geralmente, as pessoas não são resistentes à prática da gestão, mas o modelo a ser adotado pode causar alguns entraves quanto ao monitoramento. Ninguém gosta de ser monitorado ao longo do percurso de um período. E dependendo de como são traçadas as metas, você pode levar as pessoas a terem atitudes mais colaborativas ou mais individualistas. Contudo, quando é adotado um modelo em que os líderes e liderados acreditam, as resistências e os entraves são quebrados, facilitando a implantação e a condução de uma gestão corporativa.

RI: Como um Modelo de Gestão robusto deve tratar o sistema de remuneração empresarial?

Sérgio Bento Silva: Um Modelo de Gestão robusto e consistente deve levar em consideração o desempenho individual, o desempenho do grupo e o desempenho da empresa. Todos muito bem balanceados. Há um risco muito grande quando você estabelece metas individuais e gatilhos corporativos. O risco de um profissional nunca receber seu bônus é grande. O sistema de remuneração tem que ser muito bem avaliado e testado. Outro fator a ser considerado é o peso a ser dado às metas similares às áreas ou pessoas distintas. Pode haver diferenças no esforço necessário para o alcance de metas que, inicialmente, parecem iguais, mas que na prática podem requerer esforços diferentes por questões de mercado, de estrutura, de geografia etc.

RI: Finalizando, quais são suas recomendações de boas práticas e referenciais de mercado aos líderes empresariais para que eles tenham sucesso na implementação de seus modelos de gestão?

Sérgio Bento Silva: O Modelo de Gestão deve partir de objetivos estratégicos realistas e que agreguem benefícios para a organização e para os indivíduos. Ele deve ser muito bem comunicado, de forma que se tenha o buy-in dos profissionais. Geralmente, o modelo participativo tem chance maior de ser bem-sucedido, se comparado com um Modelo de Gestão top down; contudo, é mais trabalhoso também. O monitoramento tem que ser constante e acertos de rotas podem ser necessários. Os líderes devem participar gerindo com orientações, discussões e apoio nesses acertos de rotas. Por fim, o modelo de remuneração também deve levar os profissionais a buscarem o alcance de suas metas, tanto individuais quanto corporativas. Isso tudo dentro de um alinhamento de valores das pessoas com a organização.

O quadro abaixo resume as considerações do executivo entrevistado, de forma estruturada:

O Modelo de Gestão e a Arquitetura Organizacional

  MODELO DE GESTÃO   ARQUITETURA
ORGANIZACIONAL
  DIRECIONADORES E Pressupostos
(PERCEBIDOS E NÃO EXAUSTIVOS)
  DIRECIONADORES GERAIS
  • Ética e valores, com atenção à cultura
  • Liderança
  • Planejamento e controle
  • Uso de ferramentas para vários fins: Governança, Sustentabilidade, Arquitetura Organizacional e outras
 PRESSUPOSTOS
DE LIDERANÇA  
Estratégia
  • Flexibilidade para mudar
  • Agilidade para corrigir rotas
Estrutura e Processos
  • Estrutura justa (sem personogramas)
  • Comunicação clara entre os líderes e as pessoas
  • Orientação e apoio
Pessoas e Recompensas
  • Pessoas altamente preparadas, valorizadas e comprometidas
  • Sistemas de remuneração impulsionadores
  PRESSUPOSTOS
DE
PLANEJAMENTO
E CONTROLE   
Estratégia
  • Objetivos estratégicos realistas, com benefícios para a Organização e os indivíduos e claramente comunicados
  • KPI’s bem definidos
Estrutura e Processos
  • Estrutura adequada
  • Monitoramento contínuo
  • Gestão participativa
  • Tecnologia
Pessoas e Recompensas
  • Pessoas treinadas, preparadas e participantes
  • Sistemas de remuneração balanceados

Tendo em mente a figura inicial deste artigo e o quadro-resumo anterior, podemos afirmar que o Modelo de Gestão:

  • Estabelece direcionadores amplos, relacionados a temas como Ética, Liderança, Planejamento e Controle e ferramentas para diversos fins;
  • estabelece, também, pressupostos especificamente orientados aos cinco vértices da Arquitetura Organizacional. Tais pressupostos podem ser enquadrados no nível de Planejamento e Controle ou de Liderança e modificam a citada Arquitetura, protegendo e turbinando a Estratégia e demais dimensões arquitetônicas;
  • imputa às pessoas grande importância; nelas pode residir um dos mais importantes focos de comprometimento da eficácia do Modelo de Gestão, pois comportamentos podem ser colaborativos ou individualistas.

Retornemos, neste ponto, à primeira pergunta inicial: como um Modelo de Gestão impacta a Estratégia e as demais dimensões da Arquitetura Organizacional (Estrutura, Processos, Pessoas e Sistema de Recompensas)? Tornando tal Arquitetura mais eficaz, turbinada, conforme demonstram os direcionadores e pressupostos vistos no quadro-resumo anterior.

Por fim, qual é a essência de um bom Modelo de Gestão, ou seja, quais são os fundamentos que o tornam eficaz? Um Modelo de Gestão é, concomitantemente, um direcionador e um corretor de rotas, conforme ilustra a metáfora do leme do avião ou do barco, citada pelo executivo (e outras metáforas são possíveis). O Modelo de Gestão é a lógica de direcionamento e fortalecimento da Arquitetura Organizacional e sua eficácia estará relacionada à estrita observância aos direcionadores e pressupostos relacionados no quadro-resumo.

Concluímos convidando os nosso leitores a nos encaminharem seus insights sobre este artigo. Na próxima edição, retornaremos ao Modelo de Gestão, seus direcionadores, pressupostos, ferramentas e metáforas, além da cultura da organização, introduzida na figura inicial.

CIDA HESS
é economista e contadora, especialista em finanças e estratégia, mestranda em contábeis pela PUC SP e tem atuado como executiva e consultora de organizações.
cidahessparanhos@gmail.com

Mônica BrandÃo
é engenheira, especialista em finanças e estratégia, mestre em administração pela PUC Minas e tem atuado como professora, gestora e conselheira de organizações.
mbran2015@gmail.com


Continua...