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GOVERNANÇA CLIMÁTICA É TEMA DO PRESENTE. MAS, O FUTURO JÁ CHEGOU!

O Rio Grande do Sul sofreu e sofre com inundações históricas, que atingiram boa parte de suas cidades desde o início de maio. Pontes e rodovias foram destruídas, estão contabilizados mais de 160 mortos e mais de 500 mil pessoas foram desalojadas. Em dez dias, o Estado registrou o equivalente a três meses de chuva.

Embora seja impossível prevenir completamente as enchentes, existem várias medidas que poderiam minimizar seu impacto e proteger vidas humanas. São elas: melhor planejamento urbano, cuidados com o assoreamento dos rios, educação e conscientização ambiental, investimento em políticas públicas para melhoria da infraestrutura de drenagem, efetivo tratamento de resíduos e implementação de sistemas de alerta precoces e desocupação prévia de áreas de risco.

Estratégias como as mencionadas acima são consideradas ações de adaptação, pois visam antecipar os efeitos das mudanças climáticas. Mas, elas só são possíveis por meio de um bom planejamento, focado na redução dos efeitos de eventos meteorológicos extremos, cada vez mais frequentes.

Tudo isso nos leva à conclusão de que a tragédia que ocorre no Rio Grande do Sul é exemplo do que poderia ser evitado. E, invariavelmente, é resultado de problemas até hoje ignorados ou mal-administrados por todos os estados brasileiros.

Conselhos de administração e demais lideranças têm papel relevante no processo de gestão de riscos e, especialmente, no tratamento de crises, no sentido mais amplo possível, incluindo os riscos não gerenciáveis, como os eventos climáticos extremos. que podem afetar direta e indiretamente os negócios e todos os stakeholders, incluindo funcionários e suas famílias.

Identificados os riscos, é preciso traçar planos efetivos de mitigação, que sejam cumpridos pela gestão e revisitados de tempos em tempos. Essas discussões podem incluir até a relocalização de determinadas operações.

No caso do Rio Grande do Sul, a improvisação foi necessária. Porém, não se justifica que organizações responsáveis não tenham claro o gerenciamento de crises, inclusive as geradas por eventos climáticos extremos como o ocorrido.

Qual caminho seguir?
O Fórum Econômico Mundial desenvolveu, em 2019, os oito princípios de Governança Climática, para elevar o debate estratégico sobre o tema de maneira a incorporar as questões climáticas nas estruturas e processos de gestão das organizações, inclusive nos conselhos de administração. O intuito é conscientizar os colegiados sobre os riscos e oportunidades que o aquecimento global representa para as empresas e a sociedade como um todo.

Em 2021, o IBGC trouxe a iniciativa para o País, por meio do Chapter Zero Brazil, de modo a conscientizar e impulsionar uma liderança ágil e responsável no desenvolvimento de estratégias de mitigação e adaptação climática.

Com outras organizações da sociedade civil, o instituto, por meio do Chapter Zero Brazil, trabalha para que conselhos de administração e diretorias executivas impulsionem as empresas a acelerarem estratégias voltadas à mitigação de carbono e redução de riscos.

Mas, os resultados ainda não são condizentes com o discurso das organizações e os esforços do Terceiro Setor. Alguns dados merecem bastante atenção:

  • Pesquisa do IBGC entre conselheiros e diretores de empresas sobre Governança Climática mostrou que 90% dos entrevistados ainda não têm sua remuneração vinculada a métricas de transição climática.
  • Por outro lado, 42,9% deles já incluíram as alterações climáticas na sua avaliação de riscos e na estratégia central do negócio, uma vez que essa avaliação será obrigatória para as empresas listadas a partir de 2026.
  • Ainda assim, 45,8% dos entrevistados acreditam que a transição climática é assunto somente da área de sustentabilidade. Talvez por isso, 49,5% deles não concordem que deva haver um plano de trabalho para engajar todas as áreas e colaboradores da empresa.
  • Os resultados mostram que 87,8% dos conselheiros não consideraram, em sua estratégia, pelo menos 2 cenários futuros relacionados às mudanças climáticas. Também 50,5% dos conselhos informaram que suas organizações não estabeleceram uma meta para atingir emissões de carbono zero e 53,3% informaram que a empresa não conta com planos de ação de curto e médio prazo para redução das emissões.
  • 46,3% não possuem um plano de adaptação para lidar com as mudanças climáticas e 53,3% não consideram as questões climáticas nas suas decisões de investimentos e nem pensam no mercado de carbono como uma possibilidade. Por último, apenas 27,1% dos entrevistados afirmaram que as suas empresas anunciam os seus planos de ação climáticos baseados em métodos e métricas científicas.

O papel dos conselhos
O conselho deve assegurar que sua composição seja suficientemente diversa em conhecimento. A matriz de competências deve incorporar aspectos climáticos para que eles sejam reverberados em sua estrutura e em seus comitês.

Também é papel do conselho analisar riscos, assegurar que o clima integre o seu planejamento estratégico e avaliar a remuneração dos executivos vinculada a métricas de transição climática. Deve, ainda, divulgar essas informações de modo consistente e transparente e manter diálogos com o ecossistema e o mercado em que atua.

Com o uso de novas tecnologias, é possível transformar a cadeia de valor, mitigar riscos, adaptar-se à nova realidade, desenvolver produtos e serviços sustentáveis e evitar que novas catástrofes como a que vimos no Rio Grande do Sul aconteçam. Ou, no mínimo, que lideranças estejam adequadamente preparadas para enfrentar situações como essas.

Valeria Café e Carlos Biedermann
são, respectivamente, Diretora-Geral do IBGC; e Conselheiro de Administração.
comunicacao@ibgc.org.br


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