Relações com Investidores

CFA SOCIETY BRAZIL ENFATIZA RELEVÂNCIA DO ESG NA CONEXÃO DO RI COM BUY E SELL SIDE

A CFA Society Brazil, que reúne os detentores da certificação CFA no país, recebeu lideranças do mercado financeiro para debater a relevância da inserção do ESG na estratégia, modelo de negócios e no processo de investimento. Com este objetivo, convidou especialista da área de Relações com Investidores (RI) e Investidores Institucionais, para debaterem a genuína inserção do ESG.

O CFA Institute tem como missão contribuir para o desenvolvimento de mercados financeiros globais, promovendo ética, integridade e elevados padrões de atuação dos profissionais de finanças e investimentos para que coletivamente gerem valor para sociedade e atendam ao interesse público.

A troca de experiências destacou a importância da construção de relacionamento de confiança entre os profissionais de RI, Buy e Sell Side e a interdependência dos seus trabalhos, o que demanda que estejam devidamente preparados, em termos de conhecimento, experiência, ferramentas e informações de qualidade, para que possam exercer muito bem as suas respectivas funções. O evento foi acompanhado por cerca de 60 pessoas, na noite de 19 de junho de 2024, na MZ Arena, em São Paulo.

André Vasconcellos, vice-presidente do Conselho de Administração do IBRI, disse que "Comunicar envolve transmitir a mensagem de forma clara, concisa, adequada e tempestiva aos stakeholders da companhia. Isso requer habilidades de escuta ativa, empatia, clareza na expressão, adaptação da mensagem ao contexto e ao público-alvo para garantir que a mensagem tenha sido compreendida corretamente e contribua para tangibilizar o valor justo da empresa. Mais do que zelar pela simetria informacional e garantir a confiança do mercado de capitais, o profissional de RI deve ter o propósito de contribuir continuamente para o desenvolvimento saudável e sustentável do mercado de capitais e das empresas listadas".

Moderadora do evento, Ana Siqueira, CFA - head do ESG Committee e integrante do Advocacy Committee da CFA Society Brazil - afirmou que “Precisamos de novas lentes para analisar questões determinantes para o futuro e que impactam o valor e a perenidade das companhias”. O tema governança corporativa é conhecido há décadas no Brasil, no entanto, na história recente do país tivemos casos de expressivas falhas. Já os tópicos social e ambiental ainda apresentam amplo espaço para aprofundamento. O conhecimento é o que nos capacita a usar as lentes adequadas para analisar o presente e o futuro. Não conseguimos enxergar e tampouco compreender o que não conhecemos. Na visão da Ana, a inserção do ESG na estratégia e modelo de negócios contribui para a mitigação de riscos e criação de valor.

O Conselho de Administração, na qualidade de órgão máximo de uma organização, é o guardião das boas práticas de governança e precisa zelar pela perenidade da empresa. Questões-chave para o futuro, como cultura organizacional, inserção da pauta ESG na estratégia e modelo de negócios e o tema fator humano, precisam ganhar espaço nas pautas dos conselhos de administração. Provavelmente muitos problemas corporativos que hoje se apresentam poderiam ter sido evitados caso essas questões-chave tivessem recebido a devida atenção, argumenta Ana.

A Certificação de Investimentos em ESG (Certificate in ESG Investing) do CFA Institute foi criada em 2019. Em 2022, a CFA Society Brazil publicou o livro Novas Fronteiras de Risco e Retorno, Guia Prático para integração ESG nos investimentos, que aborda o histórico e relevância do tema no Brasil e no mundo; aspectos práticos da integração ESG e seus efeitos na avaliação de empresas; e temas de fronteira. Ana ressaltou a relevância de modelos de valuation contemplarem o impacto da pauta ESG em seus negócios e respectivas avaliações, sob o risco dos modelos perderem sua relevância.

Helena Villares, CFA, head de Relações com Investidores e de Planejamento e Análise Financeira da Natura&Co, citou: “As companhias precisam inserir o ESG na estratégia de negócios. Não pode ser visto apenas para evitar problemas futuros, mas quando inserido no modelo de negócio pode trazer ganhos financeiros importantes. Por exemplo: na redução de custos com turnover de funcionários através de estratégias de inclusão de diversidade; nos ganhos de eficiência com investimentos de P&D por conta de iniciativas de sustentabilidade ambiental e proximidade com comunidades que detém conhecimentos sobre a riqueza desse meio-ambiente”.

Além disso, o RI tem de ajudar nessa comunicação, instigando e iniciando conversas de ESG, mas há os experts de sustentabilidade também para dar suporte, quando necessário. A quantidade de informações disponíveis também é um desafio e de acordo com a Helena “cabe ao RI pensar em diferentes tipos de materiais para estimular as interações com os diferentes tipos de analistas, desde o buy side local até o analista global especialista em ESG”. Nesse sentido, a contínua busca pelo aprendizado é uma importante ferramenta: “a certificação ESG, que iniciei ainda como estagiária, me ajudou como um acelerador de conhecimento. Mais recentemente, senti que eu precisava da certificação ESG Investing do CFA Institute para representar a Natura”.

Entre os debatedores, Daniel Celano, CFA, membro do Conselho de Administração da CFA Society Brazil, chamou a atenção para pergunta recorrente dos investidores nos últimos dez anos, sobre a inserção do ESG na estratégia das empresas. Muitos investidores globais têm demandado informações mais aprofundadas a gestores de investimento no Brasil, sinalizou Celano. “O crescimento desta procura tem sido exponencial e a análise destas informações impacta a avaliação das empresas.”

Para ele, as mídias sociais potencializam a velocidade de acesso à informação e, “uma ação comprada pela manhã pode perder muito valor à tarde”. Basta uma denúncia de trabalho escravo ou um desastre ambiental. Nas recomendações de compras e vendas de ações, a leitura superficial de cenários sobre os impactos ESG, seguida de crises, pode comprometer bem mais do que os resultados de curto prazo. “Situações como essas citadas têm potencial de impactar severamente a reputação de empresas.”

Segundo Celano, é necessário ter um framework de perguntas (aos RIs e lideranças das empresas) que permita avaliar riscos. Temos que ter um banco de dados proprietário robusto, inclusive com infos de inteligência artificial lendo até nota de rodapé. Temos que usar a tecnologia e quantificar comparáveis. Precisamos ter curadoria de dados.

Ana falou sobre a relevância da atividade de stewardship, que está diretamente associada a benefícios sustentáveis para a economia, meio ambiente e a sociedade, na medida que dá grande ênfase à criação de valor no longo prazo. Como fonte de capital, os investidores possuem uma posição privilegiada para dialogar com as empresas, com o objetivo de gerar mudanças na forma de atuar das mesmas. Cada vez mais o stewardship é visto como uma forma eficiente de os investidores institucionais cumprirem seu dever fiduciário.

Bruno Pereira, CFA, sócio fundador da Leblon Equities, comentou que no final da década de 1990, ele iniciou carreira de analista no Banco Icatu, uma referência, na época, em Equity Research. A importância da educação continuada foi citada como aspecto fundamental para a longevidade no setor. “Ente 1999 e 2001, eu concluí os três níveis da certificação CFA e este foi um importante diferencial em minha carreira. Como valiosas características na carreira de analista, destaco a curiosidade permanente e a profunda dedicação. Eu estudei sobre balanços, resultados financeiros e valuation. Para se fazer um bom trabalho é necessário construir profundo conhecimento sobre os negócios e pessoas, sendo a transparência e ética importantes requisitos. Quando o analista entende o negócio e se comunica bem com o investidor, tudo acontece de forma bem melhor”, afirmou.

“O mercado evoluiu. Acordamos para aspectos ambientais e sociais em razão dos desastres de Mariana e Brumadinho, por exemplo. É preciso também levar para os Conselhos de Administração a perspectiva dos investidores e a área de RI cumpre papel importante nesse processo”, argumentou Bruno.


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