Qualquer pessoa que decida abrir uma empresa poderá observar que o processo não se limita à documentação de cunho administrativo. Dependendo do tipo de negócio é preciso apresentar um estudo de impacto ambiental aos órgãos competentes, só para citar um exemplo de exigência comum.
Estou falando da abertura, mas enquanto a empresa existir seu gestor deverá se preocupar com outras exigências que vão do recolhimento de impostos, manutenção das boas condições de trabalho, a contratação formal de funcionários, entre outras de uma extensa lista.
E não pense que são exigências para grandes companhias apenas. As regras valem para todos. Uma pequena sorveteria de bairro está sujeita às normas e a complexidade das exigências varia conforme o tipo de empresa. Naturalmente menor para estabelecimento que apenas vende sorvetes e maior para o que fabrica o produto que venderá ao consumidor. Há mais exigências para indústrias químicas e menos para negócios da área de serviços, mas há regras para todo tipo de negócio e tudo depende do impacto que ele pode causar no meio ambiente e na sociedade.
Para os leigos, tanta regra só serve para tornar o ambiente de negócios menos amigável e atrativo. Mas não é bem por aí. Claro que dificulta. Porém, a legislação atende às demandas da sociedade. Ninguém quer beber água contaminada com algum produto químico prejudicial à saúde, então, é preciso que as empresas do ramo adotem determinados procedimentos para evitar o descarte de resíduos em locais inapropriados. Necessário se faz fiscalizar se os procedimentos estão sendo cumpridos.
O negócio tem de ser bom e lucrativo para seu proprietário ou para o conjunto de acionistas, mas não pode ser prejudicial para a sociedade e para a natureza. Décadas atrás não havia esta preocupação, mas conforme os problemas foram surgindo ficou claro que é preciso haver regras também para a livre iniciativa. E tudo isso que estou dizendo é para mostrar que o processo para a manutenção de uma empresa é complexo – e olha que eu nem ao menos citei questões como ética, compliance, multas por descumprimento de leis etc.
Tal complexidade exige que os executivos integrantes de conselhos de administração, consultivo ou de comitês de sustentabilidade e de auditoria, entre outros, tenham cada vez mais conhecimento sobre os conceitos e práticas ESG. Porque se há alguns anos a preocupação dos empresários se limitava às questões financeiras, ao tamanho do lucro, hoje, por causa das mudanças que o mundo vem sofrendo, a preocupação é saber não apenas o tamanho do lucro, mas principalmente de que forma ele foi obtido.
A empresa lucrou respeitando a legislação ambiental ou todo o processo exigiu burlar a lei para emitir mais fumaça na atmosfera? Foi necessário subornar algum fiscal? Participar de algum “esqueminha” para vencer licitações? Omitir algum defeito na linha de produtos? Ou seja, cada vez mais a maneira como uma empresa obteve seus bons resultados e o impacto que isso causou importa. Até porque, além das demandas da sociedade serem urgentes, o avanço da tecnologia da informação com o aperfeiçoamento da Inteligência Artificial facilita o trabalho de fiscalização. A cada ano que passa fica mais difícil esconder um ato de sonegação, o descarte de produtos no solo ou nos rios, a emissão de gases na atmosfera. No futuro, tudo será rastreável.
Então, imagina ser convidado para integrar um comitê ou um conselho e não ter conhecimento sobre o tema ESG? Um profissional assim pouco pode ajudar. É preciso saber sobre o “G” de governança, mas compreender que qualquer opinião e toda decisão visando questões financeiras – que é o que movimenta qualquer negócio – considere sempre as letras “E” de environmental (ambiental) e “S” de social. Tenha em mente que não existe o “G” sem o “E” e o “S”.
Por todas as razões citadas é muito importante que os executivos estejam bem preparados para o tema ESG, principalmente se forem participar de algum conselho. A literatura disponível é farta. Há livros e sites sobre o assunto. O IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa) fornece um rico conteúdo a respeito. Instituições de ensino como FGV, ESPM, FIPECAFI, FECAP e FIA Business School, só para citar algumas, oferecem cursos de extensão.
O que não se pode fazer é ficar parado e pensar que entender de finanças e de gestão nos moldes tradicionais já basta. Sendo assim, prepare-se, porque o ESG é o futuro das relações econômicas e sociais.
Roberto Gonzalez
é consultor de governança corporativa e ESG e conselheiro independente de empresas. É autor do livro "Governança Corporativa - O Poder de Transformação das Empresas".
roberto.gonzalez@uol.com.br