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25º ENCONTRO DE RI DEBATE MUDANÇAS REGULATÓRIAS, NOVAS TECNOLOGIAS E DESAFIOS GLOBAIS

Evento promovido pelo IBRI e pela ABRASCA completa um quarto de século de debates sobre a ampliação do papel dos profissionais de Relações com Investidores ao longo dos anos, bem como se preparar para as mudanças regulatórias e novas tecnologias.

“É uma honra e um privilégio estar aqui hoje como presidente do Conselho de Administração do IBRI (Instituto Brasileiro de Relações com Investidores). Gostaria de começar expressando meu mais profundo agradecimento a todos os presentes no 25º Encontro Internacional de Relações com Investidores e Mercado de Capitais. Este evento é uma oportunidade única para compartilharmos conhecimentos, discutirmos tendências e fortalecermos nossa rede de contatos no setor”, anunciou Renata Oliva Battiferro, presidente do Conselho do Instituto na abertura da 25ª edição do Encontro Internacional de Relações com Investidores e Mercado de Capitais.

Promovido anualmente pelo IBRI em parceria com a ABRASCA (Associação Brasileira das Companhias Abertas), o Encontro aconteceu nos dias 24 e 25 de junho de 2024, no Teatro B32, em São Paulo (SP), e contou com a presença de Relações com Investidores, analistas, profissionais do mercado de capitais, investidores, imprensa e demais interessados. “Ao longo desses 25 anos, vimos o mercado de capitais brasileiro evoluir de forma significativa, tornando-se mais robusto, transparente e acessível. Essa evolução não seria possível sem a dedicação e o esforço conjunto de profissionais como vocês, que trabalham incansavelmente para promover a integridade e a confiança no nosso mercado”, pontuou Renata Oliva Battiferro.

Para a presidente do Conselho do IBRI, o papel do Instituto tem sido crucial na promoção das melhores práticas de comunicação entre empresas e seus investidores. “Nosso compromisso é continuar sendo uma referência em excelência, incentivando a transparência, a governança corporativa e a educação no mercado de capitais. Este evento reflete o nosso esforço contínuo para manter esses valores e fortalecer a confiança dos investidores”, afirmou.

Renata Oliva Battiferro lembrou que o mercado está enfrentando um momento de grandes mudanças e desafios, mas também de oportunidades. Segundo ela, a inovação tecnológica, a crescente demanda por sustentabilidade e as novas regulamentações estão redefinindo o campo de atuação do RI. “Dessa forma, seguimos nos preparando para enfrentar essas mudanças com resiliência e visão estratégica, sempre focados em promover um mercado de capitais justo e eficiente”, finalizou.

Pablo Cesário, presidente executivo da ABRASCA, reforçou a importância do evento na discussão das tendências e de estar na fronteira do conhecimento no relacionamento com os investidores. “Estamos passando por uma mudança nas estruturas do nosso mercado. A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) tem liderado uma discussão de modernização e simplificação muito relevante que deve continuar a ser estimulada. Mas a realidade é, sem nenhum eufemismo, que vivemos um momento difícil”, afirmou.

Segundo ele, os casos de fraudes impactaram negativamente o mercado, fechando a captação durante alguns meses e grandes empresas sendo tratadas como distressed assets, ou seja, investimentos de alto risco. “Por sorte isso está começando a se reverter, o mercado está começando a se abrir e as companhias voltando a captar. Faz três anos que não temos um IPO (em inglês, IPO é a sigla para “initial public offering”, ou “oferta pública inicial” em português) e várias empresas estão fechando capital e há companhias abrindo capital no exterior”, mencionou.

Pablo Cesário reforçou a importância da união entre os profissionais de mercado com o objetivo de trazer prosperidade e união. “Qual é a nossa proposta para criarmos um equilíbrio fiscal? Não podemos nos esquivar de propor as soluções para o caminho da prosperidade e da sustentabilidade”, afirmou.

Gilson Finkelsztain, CEO da B3 (Brasil, Bolsa, Balcão), enfatizou que a complexidade também abriga os desafios globais, especialmente com as altas taxas de juros. No mercado interno, ele citou o desafio de se atingir a sustentabilidade fiscal. “Ainda assim com desafios e incertezas não temos um mercado que está parado e estamos de cabeça erguida para trazer o desenvolvimento”, frisou.

De acordo com ele, apesar disso tudo o mercado tem boas novas: “o Brasil é um dos mercados com maior liquidez do mundo, dentro dos emergentes”, comentou. Finkelsztain afirmou que o mercado de dívidas é a bola da vez e o mercado nacional não pode deixar passar esta oportunidade. Este mercado está movimentado há seis anos, disse.

“O profissional de RI desempenha um papel crucial nesse cenário de incertezas. Ele é a porta de entrada da empresa e conversa com todos os investidores. A comunicação transparente e consistente é muito importante para termos governança. Contem com a B3 para gerar boas oportunidades de negócios para as companhias”, encerrou.

João Pedro Nascimento, presidente da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), observou que o Brasil é um país de proporções continentais. Está dentre as 10 maiores economias do mundo e conta com aproximadamente 700 companhias registradas na CVM, das quais apenas 420 estão efetivamente listadas na B3, observou. Nascimento afirmou que há desafios macroeconômicos com as altas taxas de juros e perspectivas de controle inflacionário pelos juros, trazendo uma série de desafios para o mercado de capitais.

Entretanto, na visão do presidente da autarquia, no contexto global, o Brasil tem uma oportunidade de se destacar e se diferenciar dos demais. “Se esse desafio está presente em todos os países, o que observamos aqui no Brasil é uma grande quantidade de companhias com demandas represadas, aguardando uma janela de oportunidade para voltar a fazer a oferta de distribuição de valores mobiliários”, declarou.

Em paralelo a isso, João Pedro Nascimento informou que se tem observado um aquecimento muito grande das operações de crédito corporativo, ou seja, as operações de dívida por meio do mercado de capitais. “Se de um lado os juros altos apresentam desafios para as ofertas de participação, de outro lado gera um mercado interessante para as ofertas de dívida mesmo, pois o empreendedor precisa continuar se financiando, captando recursos e o mercado de capitais tende a aparecer e apresentar alternativas financeiramente mais viáveis do que o mercado financeiro tradicional”, observou.

Em sua mensagem final, João Pedro Nascimento chamou atenção “para enxergarmos o lado bom das coisas”. “A retomada do crescimento passa pelo mercado de capitais. Gostaria de deixar uma mensagem de construção e o lado bom das coisas”, concluiu.

Homenagem a Lélio Lauretti
Antes do início do primeiro painel, as entidades promotoras do evento enalteceram o trabalho e legado do professor Lélio Lauretti que faleceu em janeiro de 2024. A esposa de Lélio, Gleice Lauretti, e os filhos Leandro Lauretti, Lisandro Lauretti, Lísias Lauretti, Luisa Lauretti e a nora Caroline Daitx subiram ao palco para receber uma placa em homenagem póstuma a Lélio Lauretti.

“Lélio Lauretti foi uma figura essencial para o IBRI. Apaixonado por ensinar o caminho do sucesso na Governança Corporativa, Lélio contribuiu significativamente para o desenvolvimento e aprimoramento do mercado de capitais no Brasil”, enfatizou Renata Oliva Battiferro. “Batalhador incansável, foi um pioneiro na disseminação da importância da ética e da boa governança no mercado de capitais. Sua participação como membro do Comitê Superior de Orientação, Nominação e Ética do IBRI foi fundamental para estabelecer padrões elevados de conduta e transparência”, afirmou. Renata Oliva Battiferro lembrou que Lélio Lauretti foi o responsável pelo Código de Ética adotado pelo Instituto.

Lélio Lauretti foi associado do IBRI por 25 anos, Renata afirmou que “seu legado é imensurável e inestimável”. “Em nome do Instituto, expressamos nossa sincera homenagem e nosso profundo agradecimento a Lélio Lauretti”, destacou.

“A estatura de uma pessoa é medida pelo seu legado. O professor Lélio Lauretti anteviu o que precisava ser feito e deixou um legado e grandes amigos. Ele se torna um imortal”, declarou Pablo Cesário da ABRASCA.

Lisandro Lauretti descreveu o pai como uma pessoa alegre e espirituosa. Além disso, era disseminador da ética e da boa governança do mercado. “Ele transpirava dedicação quando se tratava dessas entidades - IBRI e ABRASCA. Agradecemos demais esta iniciativa e estamos muito felizes. Essa homenagem tocou nossos corações”, reforçou. Antes de finalizar, Lisandro Lauretti lembrou uma frase do pai: “Nunca se está velho ou novo para fazer o bem”, concluiu.

Painel 1: Digital Verde - Aspectos regulatórios e não regulatórios - o que as empresas podem esperar
O primeiro painel do evento foi moderado por Renata Oliva Battiferro, presidente do Conselho de Administração do IBRI, e contou com as participações de Flavia Mouta, diretora de Emissores da B3, e João Pedro Nascimento, presidente da CVM. “O que temos de novidade na área digital e de sustentabilidade”, questionou a presidente do Conselho do IBRI para João Pedro Nascimento, presidente da CVM.

Segundo ele, a autarquia promoveu mudanças regulatórias que incluíram o Brasil no que diz respeito a Finanças Sustentáveis e citou 3 Resoluções emitidas pela CVM. A Resolução 193 que dispõe sobre a elaboração e divulgação do relatório de informações financeiras relacionadas à sustentabilidade; a Resolução 175 sobre a constituição, o funcionamento e a divulgação de informações dos fundos de investimento, bem como sobre a prestação de serviços para os fundos, e revoga as normas que especifica e, por fim, a Resolução 59 que estabeleceu um novo regime de divulgação para o Formulário de Referência, principalmente no que diz respeito a informações sobre temáticas ambientais, sociais e de governança corporativa (ESG), o Pratique ou Explique.

“A agenda da CVM é para simplificar para o emissor e para o investidor”, disse o presidente da CVM. Ao falar sobre digital, João Pedro Nascimento disse que a temática da autarquia é “modernizante e estamos criando o Open Capital Market e vamos conectá-lo com o Open Finance do Banco Central”, mencionou.

Flavia Mouta, diretora de Emissores da B3, apontou três grandes vertentes de contribuição da Bolsa no quesito sustentabilidade e digital. “Conseguimos junto com o mercado viabilizar produtos ESG, o que pode nos ajudar a protagonizar esse movimento”, observou. Como exemplo, ela citou os índices ESG, títulos específicos como social e green bonds. A segunda vertente mencionada por Flavia Mouta foi a B3 enquanto empresa e servindo de fonte de inspiração, especialmente o quanto pode absorver de boas práticas.

A terceira vertente está ligada à B3 e o seu papel de força de indução de boas práticas. “Lançamos o anexo ASG (Ambiental, Social e Governança) que tem o intuito de promover a diversidade na alta liderança. Ele entra em vigor em 2025 e será no modelo Pratique ou Explique. Acreditamos que as companhias conseguirão chegar lá”, destacou.

Renata Oliva Battiferro perguntou ao presidente da CVM como é possível acelerar a ideia do digital verde por meio da regulação e autorregulação. “Existe algum incentivo para as empresas adotarem essas práticas?”, indagou. João Pedro Nascimento lembrou que a autarquia tem que ter o cuidado de não onerar os emissores e tratar a questão dentro de um sistema de recompensas.

“Se a inteligência artificial entregar no curto e médio prazo tudo o que pretende de maneira responsável vamos conseguir calibrar a consistência das informações”, observou Flavia Mouta. De acordo com ela, a agenda digital verde não é isolada da B3, CVM, RIs e companhias. “É o conjunto para criar boa qualidade das informações, aumentar o interesse dos investidores e, consequentemente, aumentar a liquidez do mercado”, finalizou.

Apresentação pesquisa Deloitte IBRI: O protagonismo estratégico do RI
A apresentação da pesquisa Deloitte IBRI: “O protagonismo estratégico do RI: Como a Comunicação, as novas regulações de ESG e a Inteligência Artificial podem influenciar o valor das empresas” foi conduzida por Rodrigo Lopes da Luz, conselheiro Fiscal do IBRI e moderador do painel, e Reinaldo Oliari, sócio de Audit & Assurance da Deloitte.

“Gostaria de agradecer a todas as empresas que participaram da pesquisa. Da pesquisa saem insights importantes que podem direcionar o dia a dia estratégico da área de RI, bem como o conhecimento de novas ferramentas que estão surgindo capitaneadas por algumas empresas e de possível aplicação pelas demais”, enfatizou Rodrigo Luz.

Rodrigo Luz observou que a pesquisa contou com a resposta de 51 empresas, trazendo quatro temas importantes: a regulamentação e a padronização da temática ESG e a ausência de RI especializado nesses tema, principalmente nas empresas de mid e small caps; o segundo tema diz respeito ao acréscimo do investidor pessoa física nas bases acionárias e como lidar com esse público; o terceiro insight aborda o papel dos influencers e como a companhia faz uso e alavanca o valor da empresa por meio deles; e o quarto tema fala dos processos de tecnologia voltados à inteligência artificial e como as áreas de RI estão lidando com essas ferramentas.

Do total de respondentes (de 51 empresas), 37% são companhias listadas na B3 (Brasil, Bolsa, Balcão) e 18% no exterior, mostrando que a estruturação da área de RI nas organizações está ganhando cada vez mais relevância, posicionando-se como um pilar fundamental para o crescimento sustentável e a maximização do valor das empresas. Nesse sentido, 76% dos respondentes da pesquisa indicaram que suas organizações já têm uma área de RI estruturada atualmente, sendo que 51% delas implementaram essa estrutura nos últimos cinco anos, evidenciando um movimento crescente de estruturação nos últimos anos.

Oliari citou a Resolução CVM 193 que a partir de 2026 torna mandatório que as companhias de capital aberto produzam um relatório de sustentabilidade com foco nos investidores. “Ele não é um relatório feito com todos os stakeholders e como é direcionado aos investidores ele deve ser mais sucinto e objetivo do que os demais relatórios de sustentabilidade”, declarou.

Mais da metade das organizações pretende aderir antecipadamente às novas regulamentações que objetivam padronizar relatórios ao mercado e guiar em direção à conformidade com as diretrizes ESG (do inglês, Environmental, Social and Governance; em português, ASG – Ambiental, Social e Governança) e de sustentabilidade, embora essa adaptação aos novos modelos só se torne obrigatória em 2026. Para as empresas de capital aberto, o percentual chega a 68%. Contudo, alguns desafios devem acompanhar essa transição, como custos associados, identificação das métricas relevantes e como conectar os relatórios de sustentabilidade e ESG com os financeiros.

O contexto de sustentabilidade e ESG no setor
O estudo identificou que 57% das empresas possuem Comitê Administrativo responsável pelas iniciativas ESG. Adicionalmente, decorrentes das novas decisões da CVM, as alterações nos relatórios de sustentabilidade destacam a importância da atuação de um profissional especializado em ESG na área para estabelecer métricas de acompanhamento das iniciativas, comunicar os objetivos das ações adotadas, avaliar temas materiais e incorporar essas pautas em todas as áreas de negócio, emergindo como ações fundamentais para promover a geração de valor nas empresas participantes, posicionando o tema como um objetivo estratégico. Atualmente, quase 30% das organizações participantes contam com esse especialista e, das que não têm, 22% pretendem contratar nos próximos anos.

Ainda que haja o amadurecimento das empresas com relação ao monitoramento de indicadores ESG, os desafios relacionados a eles – e que impactam diretamente no desenvolvimento de relatórios – estão relacionados à falta de padronização de dados (60%), às informações pulverizadas (58%), dificuldade de mensurar impactos financeiros (52%) e falta de equipe especializada (42%).

Novas regulações e relatórios mais utilizados pelos profissionais
Ainda que 70% das empresas entrevistadas adotem algum tipo de framework para padronização de seus relatórios, as novas regulações mostram que as organizações precisam dar mais um passo em direção à conformidade dos temas de sustentabilidade e ESG. Os principais benefícios apontados pelos respondentes quanto às novas regulamentações para o reporte de indicadores de sustentabilidade e ESG são maior clareza e comparabilidade entre relatórios (73%), auxílio no desenvolvimento de políticas de controle (64%) e mitigação de riscos como greenwashing (que são declarações enganosas ou exageradas sobre suas práticas ambientais) e outras práticas (51%).

No panorama geral, as novas regulações têm benefícios concretos, mas seu processo de adoção apresenta alguns obstáculos. Vincular o relatório de sustentabilidade e ESG aos financeiros (67%), os custos associados a modificações sistêmicas para realizar essas interações (53%) e a determinação de métricas materiais para apresentação no reporte (51%) estão entre as principais dificuldades das empresas respondentes.

IA e GenAI já são gradualmente aplicadas
Embora mais da metade das empresas considere a adoção de novas tecnologias uma prioridade, apenas 17% já implementam ferramentas de Inteligência Artificial (AI, na sigla em inglês) e Inteligência Artificial Generativa (GenAI, na sigla em inglês) em suas atividades, como leitura e análise de dados (50%), produção de relatórios (38%), e personalização de conteúdo (25%). No entanto, 35% planejam adotar a ferramenta no próximo ano, refletindo uma tendência de modernização e inovação na área, com o objetivo de transformar a comunicação com investidores e aprimorar a eficiência e a capacidade de resposta às mudanças do mercado.

Os usos da IA e da GenAI têm impactado significativamente os profissionais de RI em três áreas principais: automação e sofisticação na construção de relatórios com análise de dados avançados (81%), análise financeira mais aprofundada (69%), e elaboração de comunicação com investidores (63%). Essas tecnologias economizam tempo e recursos, fornecendo informações e insights mais eficientes e relevantes para os investidores.

Os principais desafios referentes ao uso da ferramenta incluem a necessidade de investimento em capacitação (70%) e garantia de transparência e segurança de dados (53%). Esses fatores destacam a complexidade enfrentada pelas empresas na incorporação de novas tecnologias.

“A pesquisa mostra que embora existam desafios significativos, como a adaptação às novas regulamentações, a capacitação em novas tecnologias e a integração de relatórios financeiros e de sustentabilidade, as organizações estão comprometidas em superar esses obstáculos para colher os benefícios de forma mais eficiente e transparente para seus investidores. A crescente importância das iniciativas ESG, combinada com o uso de IA e GenAI, destaca a necessidade de uma governança robusta e estratégias de comunicação inovadoras para maximizar o valor e a sustentabilidade das empresas”, destacou Reinaldo Oliari, sócio da Deloitte.

Comunicação inovadora e de valor com o mercado
Com a crescente relevância dos investidores pessoas físicas no mercado, as empresas têm percebido a necessidade de inovar nas formas de comunicação. Os dados indicam que 84% dos respondentes concordam que as redes sociais se tornaram uma fonte relevante de informação sobre economia e investimentos para o investidor. Nesse sentido, apesar de concordarem com a relevância das redes sociais enquanto fontes de informação, as empresas ainda valorizam mais lives e teleconferências na comunicação com investidores.

Para 55% dos participantes, o aumento de investidores pessoas físicas deve-se à presença dos “finfluencers” - influenciadores digitais do mercado financeiro -, que atuam como formadores de opinião e referências populares sobre o mercado financeiro. Inclusive, 37% enxergam positivamente o impacto dos influenciadores no mercado de investimentos, apontando a democratização da educação financeira (81%), engajamento direto com investidores (75%), e compartilhamento de experiências (63%) como os principais motivos para essa conclusão.

Já os que discordam (18%), apontaram a comunicação inadequada dos fatores de risco e foco excessivo em tendências de curto prazo (88%) e falta de transparência sobre as informações apresentadas (75%) como motivos para enxergar de forma negativa os influenciadores digitais do mercado financeiro. Quase metade (45%) das organizações afirmaram enxergar a popularização dos finfluencers como neutra no mercado de Relações com Investidores.

Entretanto, 82% das empresas concordam que a CVM e a ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) devem adotar regulações mais rígidas para mediar a relação entre finfluencers e investidores. Essa regulação deve fiscalizar, principalmente, analistas de investimentos e educadores financeiros, tendo em vista que o mercado de renda variável e outros ativos mais sofisticados oferecem maiores riscos aos investidores menos experientes.

“As áreas de Relações com Investidores estão cada vez mais alinhadas com as demandas por transparência, inovação tecnológica e engajamento em questões ESG. A tendência de modernização é evidente, com muitas empresas já adotando ou planejando incorporar IA e GenAI para aprimorar a análise de dados e a comunicação com investidores. A presença crescente de investidores pessoas físicas e a influência dos finfluencers ressaltam a necessidade de uma comunicação mais acessível e regulada, que promova a educação financeira e a proteção dos investidores. Assim, o setor se posiciona como um pilar essencial para a sustentabilidade e o crescimento das empresas no cenário atual”, observou Rodrigo Lopes da Luz.

Iniciativas de diversidade, equidade e inclusão crescem
A maioria das organizações promove iniciativas voltadas para diversidade, equidade e inclusão. Mais de um terço estão em estágio intermediário e possuem, além de práticas, indicadores para monitoramento do tema. Já 26% dos respondentes indicaram estar em estágio avançado, com práticas e metas definidas em relação ao tema. Segundo a pesquisa, os principais motivadores da promoção de diversidade, equidade e inclusão nas empresas são fortalecimento da cultura organizacional (70%), demonstração de responsabilidade social corporativa (70%), políticas e compromissos inerentes da empresa (62%) e atração de talentos (60%).

Metodologia e amostra
A pesquisa “O protagonismo estratégico do RI: Como a comunicação, as novas regulações de ESG e a Inteligência Artificial podem influenciar o valor das empresas” foi elaborada com base em questionário on-line, entre 4 de abril e 31 de maio de 2024. Participaram do estudo 51 empresas, entre as quais 37% estão listadas na B3 (Brasil, Bolsa, Balcão), 18% no exterior, e 27% têm receita líquida acima de R$ 5 bilhões. Entre os respondentes, 36% ocupam cargos executivos e 22% são membros de Conselho. Entre as áreas de atuação, 36% são de Relações com Investidores e 24% de Controladoria/Financeiro. Participaram do levantamento empresas dos setores de Infraestrutura (26%), Serviços (22%), Serviços financeiros (20%), Tecnologia da Informação e Telecomunicações (10%), Bens de consumo (8%), Agronegócio (6%), Comércio (6%), e Mineração, Petróleo e Gás (2%).

7ª edição do Programa de Mentoring do IBRI inicia suas atividades
“Vivemos em uma era de imediatismo e informações abundantes. Em um mundo onde uma rápida busca no Google ou em grupo de WhatsApp pode se obter respostas instantâneas, a verdade é que a busca por respostas rápidas pode nos dar informações, mas não sabedoria. Pode nos fornecer respostas, mas não insights e pode nos dar soluções temporárias, mas não desenvolvimento duradouro”, destacou Eduardo Pavanelli Galvão, diretor de Relações com Investidores da CI&T e conselheiro de administração do IBRI, durante o 25º Encontro de RI.

De acordo com ele, é apenas por meio da dedicação de tempo e compromisso com o autoconhecimento e aprendizado profundo que podemos crescer como profissionais e, mais importante, como pessoas. “É e com imenso prazer que apresento o Programa de Mentoring do IBRI”, ressaltou Galvão que também é coordenador do Programa.

Eduardo Galvão revelou que a iniciativa do IBRI teve início em 2019 e está na 7ª edição este ano. Ele explicou que o objetivo do Programa é contribuir para o desenvolvimento pessoal e profissional dos associados, por meio de interação customizada. “Este ano tivemos um número recorde de inscrições e priorizamos os novos participantes resultando na adesão de novos associados ao IBRI que se juntaram ao Instituto, especialmente para aproveitar oportunidades de mentoria e networking que oferecemos”, apontou.

Serão seis sessões de mentoria com duração de uma hora cada, entre junho e novembro de 2024. Após o processo de inscrição, cada um dos 15 candidatos selecionados recebeu uma mensagem de confirmação de participação no Programa. A definição dos mentores / mentorados foi feita com base no alinhamento dos temas de interesse e haverá acompanhamento do coordenador do Programa junto aos participantes, bem como avaliação ao final do Programa. Os mentores são experientes profissionais do quadro de associados do IBRI, tendo a importante missão de interagir com os mentorados, de forma customizada.

“Para o próximo ano, estamos determinados a evoluir e expandir o Programa de Mentoring do IBRI com o objetivo de atender ainda mais associados, fortalecendo a profissão de Relações com Investidores e contribuindo para o desenvolvimento profissional de cada um dos nossos associados”, concluiu. O Programa de Mentoring não tem custos para o associado. Para mais informações sobre o Programa de Mentoring do IBRI, basta acessar:
https://www.ibri.com.br/pt-br/desenvolvimento-profissional/programa-de-mentoring/#:~:text=O%20Programa%20de%20Mentoring%20foi,desenvolver%20perspectivas%20complementares%20para%20carreira.

Painel 2: As novas fronteiras da análise de mercado – Sell side e Buy side – evolução
“A primeira vez que participei deste evento foi em 2015 e aqui temos a oportunidade de aprender coisas muito interessantes. Aproveitem esses dois dias de evento porque há muitas novidades do mundo de RI”, comentou Guilherme Setubal, head de Relações com Investidores e ESG da Dexco e membro do Conselho de Administração do IBRI, no início do segundo painel do evento. Setubal moderou os debates e apresentou os participantes Marcio Farid, vice president – Equity Research Analyst do Goldman Sachs; e Emerson Leite, sócio-fundador da CapSigma Investimentos.

Ao ser questionado por Guilherme Setubal sobre as principais mudanças vistas no mercado nos últimos cinco anos, Marcio Farid disse que desde 2010 o mercado no Brasil é muito cíclico e com bastante volatilidade. “No final do dia, vejo o sell side como uma oportunidade de engajar os representantes das empresas, os peers e todos na cadeia de suprimento aos investidores. E no meio do processo ajudar na tomada de decisão de investimento”, comentou.

Segundo Farid, o acesso à informação está cada vez mais fácil e como exemplo ele citou que no passado o contato com o investidor era feito basicamente por telefone “e hoje nem sei o meu número de telefone da mesa. O WhatsApp passou a ser o meio de mensagem para se ter contato mais próximo com o investidor, ou pelo menos mais rápido, mesmo assim está começando a ficar repleto de mensagens e estamos voltando para o telefone”, opinou ao enfatizar a importância da comunicação “face to face”.

Em continuidade à fala do colega de painel, Emerson Leite observou que “do ponto de vista de analistas e investidores, o profissional de RI precisa entender muito do negócio, dos números da empresa e da estratégia corporativa e ter uma boa comunicação com o mercado”.

Na visão de Leite, o escopo de atuação do RI está maior “com temas que estão impactando muito o negócio, como a agenda ESG, Inteligência Artificial, tornando assim a função de Relações com Investidores mais abrangente e desafiadora”. “Em conversa com o RI, minha perspectiva é ouvir dele o que eu ouviria do Presidente ou o Diretor Financeiro, ou seja, entender a visão estratégica e se ela está mudando e para que lado”, exemplificou. Segundo ele, “a história de longo prazo da companhia pode ser boa, mas a de curto prazo pode ser ruim e o RI precisa estar presente em todos os momentos”.

Guilherme Setubal completou a fala de Emerson Leite e disse que o papel do RI é “mais importante em momentos difíceis, pois são nessas horas que o mercado mais precisa do profissional é que ele tem que estar mais disponível”. “Estou há 10 anos na carreira de RI e aprendi mais nos momentos difíceis”, compartilhou.

Durante o painel, eles abordaram a temática da comunicação do RI com o mercado e como ele precisa ajustar a linguagem aos diferentes públicos. Marcio Farid mencionou a importância de as empresas incentivarem a cultura da transparência e Emerson Leite complementou: “A cultura de ser franco e transparente vem da liderança. Ainda hoje admitir erro está associado ao fracasso. Isso faz parte da nossa cultura latina”.

Painel 3: Perspectivas do mercado de capitais brasileiro – visão de equity e dívida
No terceiro painel “Perspectivas do mercado de capitais brasileiro – visão de equity e de dívida, Natasha Utescher, head de Relações com Investidores e Tesouraria da Aura Minerals e diretora regional São Paulo do IBRI, moderou o painel que contou com as presenças de Fabio Nazari, head of Equity Capital Markets do BTG Pactual, e Gabriel Cambuí, International DCM Director no Banco UBS - BB.

“Com a queda na liquidez e saída de capital, queremos ouvir qual é sua visão para o mercado tanto este ano quanto para os próximos”, solicitou Natasha Utescher para Fabio Nazari.

Nazari fez um breve histórico do mercado de equity no Brasil desde sua reabertura na primeira década dos anos 2000. “Estamos acostumados com essa volatilidade e como mercado emergente também nos habituamos com essas janelas de volatilidade abrindo e fechando. É absolutamente natural e quando acaba todo mundo fica um pouco deprimido”, afirmou.

De acordo com Nazari, desde quando o mercado de capitais brasileiro se reabriu com os IPOs (do inglês, Initial Public Offering, em português, Oferta Pública Inicial) da Natura (2004), há um ambiente de importante liquidez que dura de dois a três anos e depois essa janela se fecha.

Fabio Nazari disse que quando a taxa de juros nos Estados Unidos começar a cair será natural ver o Brasil no radar do mercado. “O investidor estrangeiro não voltou ainda e precisamos dele. Acredito que a janela de novos IPOs deve acontecer mais no próximo ano”, pontuou.

Para Natasha Utescher, “em momentos que o mercado está mais difícil, o trabalho do RI é de formiguinha”. “É o momento de dar a cara a tapa, falar com os fundos, mesmo sabendo que o retorno será baixo. É o momento de construir a credibilidade”, acrescentou.

Ao falar sobre o mercado de dívida, Gabriel Cambuí disse que o caminho de todas as empresas é buscar a melhor oportunidade de financiamento e, atualmente, a janela de equity não está tão aberta e o momento é de se buscar fontes de financiamento via dívidas. “O investidor estrangeiro não está investindo na Bolsa brasileira, mas ele está extremamente líquido”, complementou.

Segundo Cambuí, o mercado de renda fixa internacional está aquecido com novos entrantes no mercado, como a 3R Petroleum e a Ambipar. “Não temos visto as grandes empresas brasileiras triple A, que costumam acessar o mercado de dívida internacional com bastante frequência, fazendo captação de dívida nesse mercado. Essas empresas têm encontrado um caminho até melhor no mercado doméstico”, relatou.

Gabriel Cambuí se assume como “grande otimista em relação ao Brasil” e revela que “em conversas com investidores estrangeiros esse otimismo é maior no exterior do que aqui dentro”. “Quem investe no Brasil sabe o que esperar, somos uma economia em desenvolvimento, ainda não conseguimos chegar no patamar das grandes economias desenvolvidas, então nós temos problemas”, concluiu.

Painel 4: Mudanças contábeis – S1 e S2 – regras para IFRS a serem adotadas
“Este painel traz a discussão de temas relevantes sobre as novas divulgações de sustentabilidade. Será muito oportuno as trocas e os insights que vamos trazer aqui, assim como os debates que traremos a respeito do tema”, detalhou o moderador Alexsandro de Lima Tavares, presidente da CANC (Comissão de Auditoria e Normas Contábeis) da ABRASCA e gerente sênior de Controladoria das Lojas Renner, na abertura do quarto painel 4: “Mudanças contábeis – S1 e S2 – regras para IFRS a serem adotadas”.

Com a Resolução CVM 193, Reinaldo Oliari, sócio de Audit & Assurance da Deloitte, disse que haverá a necessidade de produção de mais um relatório de sustentabilidade e que deverá ser confeccionado pelo profissional de RI em parceria com as áreas de Finanças, Contabilidade, Auditoria, Riscos, Valuation e advogados.

“O relatório de sustentabilidade deve ser feito sob o ponto de vista do investidor e deve ser produzido com informação clara, precisa e, acima de tudo, ser sucinto”, destacou. De acordo com ele, haverá mudança da asseguração que passa de razoável para limitada. A companhia deverá ter uma matriz de controles e o fluxo de informações é de responsabilidade da empresa antes de divulgá-la. “O desejo de informar deve levar em consideração: riscos, ameaças, oportunidades”, enfatizou. No que diz respeito a normas IFRS S2, Oliari esclareceu que a empresa deverá contar com um profissional especializado em clima para detalhar como ele afeta o negócio.

Vania Borgerth, vice coordenadora de Relações Internacionais do CBPS (Comitê de Pronunciamentos Contábeis e de Sustentabilidade), revelou que para se ter uma informação de qualidade de sustentabilidade percebeu-se que deveria haver o mesmo movimento de divulgação de informações contábeis, possibilitado pelas normas internacionais de contabilidade, as IFRS. “O Banco Mundial, a IOSCO (International Organization of Securities Commissions) e o G20 começaram a estimular que buscássemos um caminho para fazer com que a informação de sustentabilidade deixasse de ser voluntária e começasse a ser divulgada de forma regulamentada, comparável em ambiente e amplitude global”, destacou.

Com isso, como Vania Borgerth expôs, foi preciso transformar todas as ideias de relato de sustentabilidade existentes no mercado como GRI (Global Reporting Initiative), CDP (Carbon Disclosure Project), SASB (Sustainability Accounting Standards Board), TCFD (Task Force on Climate Related Financial Disclosures), TNFD (Taskforce on Nature-related Financial Disclosure), Science Based Targets initiative, enfim tudo em um único padrão que pudesse ser reportado de forma padronizada, ser acompanhado, parametrizado e auditado. “Se queríamos usar a informação contábil como base, nada melhor do que ter a mesma instituição, que já faz a norma internacional contábil, para ter a norma de sustentabilidade internacional comparável e regulamentada, ou seja, a IFRS Foundation”, declarou.

A IFRS Foundation criou um “novo braço”, o ISSB (International Sustainability Standards Board), que fez as normas de sustentabilidade ancoradas na contábil, incorporando três entidades: o CDSB (Climate Disclosure Standards Board), o Relato Integrado e o SASB. “O ISSB adotou o modelo building blocks, em que a base do reporte de sustentabilidade é a informação contábil. O segundo bloco do lego do building blocks é a informação de sustentabilidade originada da ISSB e um terceiro bloco ficaria a cargo de cada regulador em cada jurisdição para estabelecer para estabelecer as particularidades que aquela região necessita reportar no que diz respeito às questões de sustentabilidade”, descreveu.

José Augusto Mendes Lobato, gerente de Educação Corporativa do Grupo Report, participou do Encontro de RI em transmissão on-line de Londres onde estava participando de uma Conferência da IFRS Foundation. Ele ofereceu atualizações a respeito da temática sustentabilidade, bem como falou sobre os desafios de capacitação dos profissionais de diversas áreas.

Segundo Lobato, o IASB (International Accounting Standards Board) e o ISSB estabeleceram um plano de trabalho para uma integração maior entre eles, ou seja, fazer com que a linguagem contábil seja inserida nos relatórios que falam de questões ligadas à sustentabilidade e, ao mesmo tempo, que as questões de sustentabilidade sejam insumo para um aprimoramento da qualidade da informação não financeira apresentada pelas empresas.

“O líder técnico do IASB trouxe a ideia de que o mundo de hoje é marcado pela complexidade de tudo. Temos mais informações, as informações e transações financeiras são cada dia mais complexas, as organizações têm estruturas jurídicas cada vez mais complexas. Elas se mundializaram numa escala nunca vista e isso traz uma série de desafios de como regular e regulamentar a comunicação de desempenho dessas empresas. Junto disso há um movimento de maior controle e regulação. E como foi dito pelos executivos do IASB e ISSB não se pode mergulhar as organizações em um oceano de normas e obrigações”, afirmou. Para José Augusto Lobato, o principal desafio é conectar esses mundos: o que trata das questões do mercado de capitais e da geração de valor financeiro da empresa e as áreas que cuidam da gestão dos impactos e do acompanhamento de como esses impactos afetam o negócio, “que é uma visão dupla que as áreas de sustentabilidade cada vez mais têm que acompanhar”, afirmou.

Luiz Murilo Strube Lima, gerente de Políticas e Procedimentos Contábeis da Petrobras, chamou a atenção para a complexidade das normas e disse que não são simples de serem adotadas. “Quando vemos esses normativos (IFRS S1 e S2), especialmente o de clima, o desafio é pegar o requerimento que consta em um normativo e fazer com que ele seja compreendido por diversas áreas dentro da companhia. Isso significa que essas diversas áreas precisarão parar e ler o normativo no detalhe e ler inúmeras vezes até entender o que está escrito ali. Isso é dificílimo de fazer, ou seja, criar uma cultura de utilização desses normativos de forma abrangente dentro de uma companhia, especialmente se for uma de grande porte”, opinou.

Para Lima, “o desafio é grande, mas precisa ser feito”, acrescentando que aderir às normas IFRS S1 e S2 pode significar ter que alterar processos dentro da companhia. “Em muitas empresas pode ser necessário mexer nos processos para produzir aquela informação que eventualmente ainda não existe. É algo que vai requerer muita troca e o mercado vai ter que se ajudar para colocar em prática”, pontuou.

Painel 5: Inteligência Artificial aplicada à área de RI – status atual e perspectivas
O quinto painel do evento abordou um tema de crescente debate no mercado e, inclusive, dentre os profissionais de RI. “Inteligência Artificial aplicada à área de RI – status e perspectivas”. Contou com a participação de Diego Barreto, CEO do iFood; Jéssica Regina, fundadora do Financ.ia; e Fernanda Montorfano, sócia do escritório Cescon, Barrieu, Flesch & Barreto Advogados. “Estamos vivendo algumas transformações e o nosso painel vai falar do uso da inteligência artificial. A área de RI merecia também um evento próprio para falar desse tema”, comentou Fernanda, que moderou os debates.

Ao ser questionado sobre o processo de adaptação do iFood à inteligência artificial, Diego Barreto foi enfático ao dizer que “o primeiro grande passo para se tornar uma empresa de IA é deixar de mentir para si mesmo”. “Fico impressionado com a quantidade de empresas que dizem que fazem IA e aí ao se fazer três perguntas, ela não chega ao segundo capítulo. É vergonhosa a necessidade que temos de mentir para dizer: ‘eu faço algo’”, destacou.

Em sua visão, o empresariado brasileiro “precisa sair de um lugar de mediocridade para entrar de cabeça em um negócio e fazer efetivamente uma transformação”. “É difícil, trabalhoso, demora, mas precisamos aceitar que temos um padrão medíocre de inovação e desenvolvimento e não sou eu quem diz isso, podem consultar qualquer dado, estudo, ranking”, mencionou.

Diego Barreto relatou que o processo para tornar o iFood uma empresa de IA teve início em 2018 e, para ele, “o mais importante foi montar um data lake, ou seja, um repositório utilizado para armazenar todos os dados estruturados e não estruturados – processo que demorou um ano”. Nesse ponto específico, Barreto afirmou que é onde as empresas têm mais dificuldade em concretizar o processo de adoção de IA e assim ultrapassar o capítulo dois. “O nosso data lake quer dizer três coisas: mais de 90% das informações sistêmicas do iFood estão num mesmo lugar, 100% dessas informações tem um único padrão de linguagem e essas informações são clusterizadas, ou seja, separadas em grupos, para dar eficiência no uso e na correlação de dados que a gente usa. Se você não tem isso na sua empresa, você não faz IA”, ressaltou.

Durante essa jornada, o CEO do iFood esclareceu que “foram demitidas em torno de 500 pessoas, que, segundo ele, não queriam se transformar”. “Não é possível subir a régua aceitando o que os outros querem na coletividade de uma empresa. Sempre respeitamos o clima e a cultura, com educação, feedback e outras pessoas ajudando no processo de desenvolvimento, mas não há espaço para não querer se transformar e se adaptar ao que precisávamos”, frisou.

Jéssica Regina, fundadora do Financ.ia, falou sobre os obstáculos que as organizações enfrentam para implementar a inteligência artificial nos departamentos de Relações com Investidores. Dentre as principais dificuldades enfrentadas, ela citou em primeiro lugar “o receio de utilizar a IA e a mentalidade das pessoas ao acreditarem que a inteligência artificial resolverá todos os problemas”. Ela reforçou a fala de Diego Barreto a respeito do data lake e ressaltou que tudo começa com os dados e a qualidade deles.

“Para quem não sabe o data lake é um lago de dados onde você vai pegando todas as informações de todas as áreas da empresa e vai afunilando até que chegue em um lugar onde haverá uma única fonte de dados. Essa fonte de dados será a fonte verdadeira. Se você não tem uma fonte de dados única na sua empresa, você começa a ter problemas, principalmente para os profissionais de RI que ficam na ponta esperando informação da contabilidade, da área comercial e outros departamentos. É importante que os dados estejam muito bem alinhados e estruturados com segurança, qualidade e, além disso, que as pessoas estejam capacitadas”, observou.

Durante sua palestra, Jéssica Regina disse que “no Brasil todo mundo fala muito sobre IA, mas ainda há muita resistência de conhecimento, de investimento e, inclusive, de capacitação das pessoas. Além disso, ela comentou que não há incentivo à cultura do erro, ou seja, como inovar com tecnologia se não podemos errar”.

Barreto comentou sobre o poder da IA Generativa para a área de RI e explicou que “ela tem criatividade e esse fato faz com seja possível enxergar pontos cegos. Depois que o time de RI define os pontos que vai discutir, ele pega o documento, joga na IA Generativa e pergunta: ‘a partir desses resultados é isso que estou enxergando e falando, o que você está vendo que eu não vi’. A IA Generativa fornece dez documentos e, então, você pede mais dez, e vai em frente. Com isso, o time de RI verifica quais informações são relevantes para o investidor e quais não são”.

Painel 6: O que significa ter um conselho e diretoria diverso? Como o RI deve se posicionar ao tema?
O último painel do evento foi moderado por Anna Guimarães, presidente do Conselho Consultivo do 30% Club e contou com as participações de Fernando Luciano Pereira, diretor de Gestão de Pessoas da Vivo, e Jvan Gaffuri, da S&P Global Sustainable1 ESG Benchmarking.

Durante o painel, os participantes falaram sobre a importância de considerar aspectos de diversidade e inclusão (D&I) nas companhias, especialmente com exemplos práticos, além de indicadores de avaliação.

A moderadora do painel Anna Guimarães informou sobre o 30% Club Brazil Award, iniciativa inédita entre todos os capítulos do 30% Club, que premiou em 2023 dezessete companhias do IBrX 100 que contam com mais de 30% de mulheres em seus conselhos de administração.

Jvan Gaffuri fez uma breve apresentação do seu trabalho na S&P Global Sustainable1 ESG Benchmarking e explicou que “atua no braço da companhia onde toda a metodologia de sustentabilidade corporativa está incluída”.

“Para nós, D&I faz parte dos valores da Vivo. Vemos a diversidade com os olhos na empresa e acreditamos que é preciso refletir o que a sociedade vive dentro da própria companhia, portanto, quanto mais diversos somos, acreditamos que conseguimos oferecer um ambiente mais colaborativo e isso gera criatividade, bem como sustentabilidade para o negócio”, destacou Fernando Luciano Pereira.

Ele informou que a companhia tem 33% de participação feminina no Conselho de Administração – dos doze conselheiros, quatro são mulheres – e, para além do Conselho, 45% dos colaboradores da empresa são mulheres. “Temos programas de desenvolvimento para os diferentes pilares de diversidade em que atuamos, são eles: gênero, raça, pessoas com algum tipo de deficiência e pessoas da comunidade LGBTQIA+”, afirmou.

Pereira chamou atenção para “a importância do letramento tanto do Comitê Executivo como do resto da companhia a respeito da diversidade”. “É uma nova jornada com novos vocabulários, novas atitudes. E conseguimos levar esse letramento para fora da companhia”, declarou.

A moderadora solicitou a Jvan Gaffuri falar um pouco mais sobre a questão da diversidade no Dow Jones Sustainability Index World, o primeiro índice de sustentabilidade mundial, lançado em 1999. Ele comentou que a metodologia do índice foi criada quatro anos antes de seu lançamento, portanto, em 1995, e “começamos olhando a princípio a diversidade no Conselho e, em seguida, avançamos para ver questões de diversidade em termos de funcionários e força de trabalho”, ressaltou.

Gaffuri destacou “a disparidade salarial entre homens e mulheres. Às vezes, vemos políticas sendo implementadas e tudo está indo bem, mas, no final, se olharmos as estatísticas salariais em diferentes níveis de responsabilidade dentro de uma organização ainda há muitas diferenças. Varia de país para país, mas ainda há muito a se fazer”.

Encerramento
“É uma grande satisfação realizar o encerramento do segundo e último dia do 25° Encontro Internacional de Relações com Investidores e Mercado de Capitais, que foi um sucesso. Tivemos 717 inscritos, representando 223 empresas e participação de 581 pessoas no evento. Ficamos muito satisfeitos. Espero que vocês também tenham ficado satisfeitos com a realização e a qualidade deste evento”, destacou o presidente executivo do IBRI, Luiz Henrique Valverde, ao final do Encontro de RI.

Valverde lembrou que o evento ocorre ininterruptamente desde 1999, sempre em uma parceria entre ABRASCA e IBRI, com o apoio das principais instituições do mercado de capitais brasileiro. “A edição atual é muito importante para nós, uma vez que marca os 25 anos de evento, uma oportunidade única para networking e acompanhamento das novidades e perspectivas do mercado”, afirmou.

O presidente executivo do IBRI enfatizou os três pilares de atuação do IBRI: educação, networking e atuação institucional “e nosso mindset é aplicar esses pilares ao longo da jornada do RI. A realização deste evento e de eventos como este está totalmente alinhada com a nossa filosofia”, concluiu.

O 25º Encontro Internacional de Relações com Investidores e Mercado de Capitais contou com o patrocínio das seguintes empresas: Brasil, Bolsa, Balcão (B3); Banco do Brasil: blendOn; Bradesco; BTG Pactual; Cescon Barrieu Advogados; Closir; Deloitte; Itaú Unibanco; Luz Capital Markets – Printer; MZ; Petrobras; Report; S&P Global Market Intelligence; Sumaq; TheMediaGroup; VALE; e Valor Econômico. Parceiros de mídia: Portal Acionista e Revista RI.

Além disso, houve o apoio institucional das seguintes entidades: Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (ABRAPP); Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCAP); Associação de Investidores no Mercado de Capitais (AMEC); Associação Nacional das Corretoras e Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários, Câmbio e Mercadorias (ANCORD); Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais do Brasil (APIMEC Brasil); CFA Society Brazil; Conselho Regional de Economia do Estado de São Paulo (CORECON-SP); Fundação de Apoio aos Comitês de Pronunciamentos Contábeis e de Sustentabilidade (FACPCS); Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças de São Paulo (IBEF-SP); Instituto de Auditoria Independente do Brasil (IBRACON); e Instituto Brasileiro de Direito Empresarial (IBRADEMP).

Para mais informações, acessar: https://www.encontroderi.com.br


Continua...