Livro

#SOBREVIVI: O QUE LI, APRENDI E VIVI NO MEU LUTO

Existem certos assuntos envolvidos por tabus e receios, que são sensíveis de abordar. O luto é um deles. É difícil para quem o vive e para quem lida com pessoas enlutadas. O que falar, como agir? O segundo livro da jornalista, especialista em sustentabilidade, conselheira de administração e membro do Conselho Editorial da Revista RI, Sonia Consiglio, vem nos ajudar nesse caminho.

“#sobrevivi – o que li, aprendi e vivi no meu luto” (Heloisa Belluzzo Editora) surge de uma experiência pessoal, mas vai além e já chegou ao mundo corporativo. Confira a seguir a entrevista “pingue-pongue” com a autora.

RI: Sonia, o que os leitores vão encontrar no #sobrevivi?

O #sobrevivi, que nasceu da minha vivência de um luto profundo, é uma curadoria de 24 livros que li sobre o tema, em oito meses, como meio de elaborar essa dor. Organizei as obras em seis categorias: Ciência, Psicológicos, Espíritas, Autoajuda, Testemunhais e Diários e destaquei as passagens que mais me marcaram em cada título. Costumo dizer que o #sobrevivi é um “companheiro amoroso” que permite um enxugar de lágrimas compartilhado e, portanto, menos doloroso. As pessoas têm recorrido ao livro não só do ponto de vista individual, mas também para presentear alguém que está sofrendo pela perda de um ente querido, como um gesto de carinho. Tem sido muito bonito presenciar tudo isso.

RI: Por que é tão difícil falar a respeito do luto?

Nós não fomos educados para a morte, né? Fomos educados para a vida, para sermos felizes, bem-sucedidos... Mas o luto, com sua profunda dor, chegará para todos nós; essa é talvez a única certeza que temos na vida. Seria melhor que conseguíssemos lidar com ele mais naturalmente... E falar a respeito ajuda nessa elaboração. O #sobrevivi tem também essa missão.

RI: Que passagens do seu livro poderia destacar para nós?

Três mensagens são muito fortes para mim. A primeira vem do livro “O cérebro de luto – Como a mente nos faz aprender com a dor e a perda”, de Mary-Frances O’Connor, que mostra como é difícil para o cérebro, de um dia para outro, entender que alguém tão presente não existe mais. O cérebro é um órgão que se alimenta de inputs, faz sinapses, isso é fisiológico, é ciência. Essa perspectiva nos leva a compreender por que, às vezes, queremos telefonar para uma pessoa que partiu. É uma resposta automática e absolutamente natural; é o cérebro procurando essa presença. “Se alguém que amamos desaparece, nosso cérebro supõe que a pessoa esteja distante e será encontrada depois”, diz a autora. O segundo ponto é sobre as frases que costumam ser ditas em momentos de luto, tais como: “A pessoa não vai querer te ver triste do céu”, “Tudo acontece por um motivo”, “Pelo menos vocês viveram esse tempo juntos”, “Você é forte, vai conseguir superar”, “Essa experiência vai fortalecê-lo”. A autora Megan Divine, no livro “Tudo bem não estar tudo bem”, coloca que esse tipo de conselho só faz a pessoa perceber que ninguém entende o seu sofrimento. E eu concordo com ela. Nessas horas, um bom abraço e um “Estou aqui se você precisar” é suficiente. Por fim, há uma mensagem comum em todos os livros que li, com exceção de Ciência: temos um corpo espiritual, ou seja, a vida não acaba na morte. Ela apenas continua de outra forma, em outra dimensão, conforme a crença de cada um.

RI: Você escreveu um artigo no seu blog no Valor Investe sobre luto e ESG. Como essas questões se entrelaçam?

No fim, estamos sempre falando sobre pessoas, não é verdade? São pessoas que perdem pessoas e sofrem com isso. E essa condição, por óbvio, pode impactar diretamente no dia a dia, na capacidade de trabalhar, produzir. Isso faz parte do S (Social) do ESG, faz parte da agenda de Recursos Humanos e das lideranças, faz parte da vida das nossas empresas. Será que os líderes estão preparados para acolher e lidar com o luto da sua equipe para além dos benefícios legais, como a licença-óbito? Minimizar a importância de olhar para tudo isso, além de falta de empatia, é um risco que se corre na gestão, no engajamento, motivação...

RI: Você começa a ministrar palestras para líderes sobre luto, não é? O que pode compartilhar conosco sobre essa experiência?

Sim, comecei um projeto a pedido da CBA – Companhia Brasileira de Alumínio que, pioneiramente, percebeu a relevância de incluir a temática do luto no seu programa de Saúde. Fiz uma primeira palestra para líderes e haverá continuidade para demais grupos. Foi riquíssimo. Tendo o livro como guia, destaquei mensagens e aprendizados para apoiá-los nesse momento junto às suas equipes e – por que não? – e a si próprio. Foi tudo muito bem-preparado pelo time de RH da CBA, o que culminou em uma sessão de profunda troca, abertura, compartilhamento que, inclusive, contou com a participação do CEO, mostrando seu suporte a todo esse movimento – o que é crucial. Era de se esperar um grau de emoção, e isso é bom; nos lembra de que somos humanos e é assim que precisamos gerir as pessoas, dando-lhes direção e apoio.

RI: Palavra final?

Quero apenas agradecer esse espaço tão privilegiado na Revista RI. Falar sobre luto é muito necessário - individual, coletiva e corporativamente. Vamos juntos nesse caminho! 

Ronnie Nogueira
é publisher e diretor editorial da Revista RI.
ronnie@imf.com.br


Continua...