Os dividendos distribuídos pelas companhias listadas na Bolsa estão sempre no radar. São frequentes as recomendações de bancos, corretoras e analistas como as “top ações de dividendos” e as estratégias de carteiras para “viver de renda” ou obter “renda passiva”. E existe um universo relevante dos chamados fundos de ações de dividendos, que possuem carteiras com papéis de empresas com histórico consistente de proventos.
Soma-se a isso, matérias e influenciadores falando sobre agenda de pagamento de proventos, companhias boas pagadoras de dividendos até polêmicas envolvendo política de remuneração aos acionistas, como o caso recente da Petrobras com os seus dividendos extraordinários.
Mergulhando nos meandros do mercado de ações brasileiro, descobrimos algo que poucos sabem: os dividendos desempenharam papel fundamental na educação dos investidores e no desenvolvimento da Bolsa.
Quem traz à luz essa história é o economista Roberto Teixeira da Costa, que foi o primeiro presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) nos anos 70, com longa atuação no mercado de capitais.
Ele conta que, quando começou a trabalhar na instituição financeira Deltec, em 1958, a Bolsa era muito pequena e as poucas ações disponíveis tinham baixa liquidez. Naquela época, a empresa atuava estruturando lançamentos de ações (IPOs) e com negociações de papéis no mercado. Para isso, havia uma equipe de “vendedores autônomos”, que tinha dificuldade de responder aos potenciais investidores qual seria o retorno ou o lucro que receberiam. Não havia educação financeira naquela época e os grandes concorrentes da Bolsa eram a poupança e os imóveis.
Então, como uma resposta e um instrumento de promoção do mercado acionário, em seus lançamentos, a Deltec oferecia nas ações o dividendo preferencial de 12%, mas sem direito a voto. As ações ordinárias (com direito a voto) só poderiam ser remuneradas após a distribuição dos dividendos aos detentores das preferenciais. Segundo Roberto, essa foi uma das bases da formação do capitalismo popular.
Depois, no final dos anos 60 até meados dos anos 70, quando o PIB brasileiro chegou a crescer mais de 10% ao ano, houve um forte movimento especulativo. Conforme o economista, a maioria dos investidores ingressava no mercado sem a percepção sobre riscos assumidos e não observava a capacidade das empresas de gerar receitas e lucros ao longo do tempo - apenas buscava valorização das cotações dos papéis. “O que aconteceu foi um surto especulativo, pois as pessoas achavam que se tornariam milionárias rapidamente ao investir na Bolsa e fizeram loucuras, venderam terrenos, apartamentos e até joias da família para investirem em lançamentos de ações, que eram avidamente disputados. Os investidores entravam sem saber exatamente o que estavam comprando, vislumbrando ganhos absurdos”, conta o ex-presidente da CVM.
Nessa fase de euforia desproporcional, inclusive, houve o inusitado caso da “Merposa”, quando circularam informações sobre o seu IPO, despertando bastante atenção. Mas a Merposa era - com o perdão da palavra -, “Merda em pó S/A”. Foi uma espécie protesto ou piada que serviu para mostrar que qualquer coisa sem fundamento poderia ser vendida como ação confiável.
Sem muitas regras ou controles adequados, também não havia transparência, clareza ou confiabilidade das informações por parte das empresas. “Grande parte dos relatórios anuais eram ‘quase que em sânscrito’, algo para cumprir uma obrigação”, destaca.
Portanto, foram anos de desgaste, uma vez que muitos investidores tiveram perdas expressivas e diversas companhias fecharam, faliram ou saíram do mercado, sem terem consistência.
Para reverter essa situação e trazer credibilidade ao mercado de ações como instrumento de desenvolvimento econômico, o governo, tendo à frente das iniciativas o ministro da Fazenda, Mario Henrique Simonsen, promoveu mudanças, sendo as principais: a revisão da Lei das Sociedades Anônimas (Decreto-lei 2.627 de 1940), que deu espaço para a Lei das S/A (no. 6.404 de 1976), além da criação de um órgão especializado e independente, a CVM, para fiscalizar, normatizar, disciplinar e desenvolver o mercado – o que era feito antes pelo Banco Central.
De acordo com Teixeira da Costa, a Lei 6.404 trouxe pilares fundamentais como a criação do dividendo obrigatório, a proteção dos acionistas minoritários, maior transparência das companhias, a divulgação de fato relevante, bem como a criação obrigatória de Conselho de Administração e de Auditoria Externa. Ele conta que, até surgir essa lei, as políticas de remuneração aos acionistas eram escassas e as companhias distribuíam dividendos ao seu bel-prazer.
O ex-presidente da CVM ressalta que os dividendos tiveram caráter educativo, levando a um processo de amadurecimento dos investidores, que passaram a observar mais as atividades e projetos das empresas, com visão de médio e longo prazo. “Os legisladores na época consideraram que não seria possível criar um mercado de capitais sólido e plausível, de acordo com as necessidades do país, sem que as pessoas fossem educadas para comprar ações, olhando o rendimento futuro da empresa e quanto elas iriam pagar de dividendos”, afirma.
Os advogados José Luíz Bulhões Pedreira e Alfredo Lamy Filho, que auxiliaram na elaboração das regras, expuseram essa lógica: “A ideia da obrigatoriedade legal de dividendo mínimo tem sido objeto de amplo debate nos últimos anos, depois que se evidenciou a necessidade de se restaurar a ação como título de renda variável, através do qual o acionista participa dos lucros na companhia. Daí o projeto fugir a posições radicais, procurando medida justa para o dividendo obrigatório, protegendo o acionista até o limite em que, no seu próprio interesse, e de toda a comunidade, seja compatível com a necessidade de preservar a sobrevivência da empresa.”
A Lei das S/A (6.404/76) diz, em seu artigo 202, que o dividendo como porcentagem do lucro líquido ajustado (depois das reservas legais e obrigatórias) pode ser estabelecido no estatuto pelas empresas e, nos casos em que o estatuto for omisso, o dividendo obrigatório não pode ser inferior a 25% do lucro líquido ajustado.
A partir de então, Roberto Teixeira da Costa comenta que começou a permear na sociedade uma visão sobre o futuro e sustentabilidade das empresas, e também começaram a ganhar espaço as gestoras de fundos de renda, com carteiras compostas por papéis de companhias boas pagadoras de dividendos (dividend yield).
“No meu mandato na CVM, coloquei em prática a obrigação dos fundos de pensão, que eram exclusivamente investidores em imóveis e títulos de dívida, a terem parte de seus portfólios investidos em ações. A intenção era dar uma base institucional ao mercado”, destaca Teixeira da Costa.
Para os fundos de previdência e de pensão, os dividendos passaram a ser componentes para gestão e resultados dos portfólios.
Estratégias e pontos de avaliação dos dividendos
O fato de determinadas companhias pagarem mais dividendos não significa que elas são melhores do que outras que distribuem pouco ou não distribuem. O que importa, segundo analistas, é que as empresas gerem valor aos acionistas, seja pagando via proventos ou destinando mais recursos para investimentos em máquinas e equipamentos, novas soluções, tecnologias, inovações, projetos de crescimento e aquisições de outras companhias.
Aí entra uma questão de perfil e necessidade dos investidores, de seguirem estratégias com foco em dividendos ou em ganho de capital (no momento da alienação das ações). Na primeira alternativa, os investidores podem capturar valor sem realizar a venda do ativo, pois os fluxos de caixa são antecipados e distribuídos. Já no caso, por exemplo, de empresas em crescimento, o valor está na perpetuidade.
No mercado brasileiro, há inúmeros entusiastas e defensores de carteiras de ações previdenciárias ou de renda. Um dos grandes destaques é Luiz Barsi, conhecido como “Rei dos Dividendos”, que enriqueceu a partir da escolha de companhias boas pagadoras de proventos para o seu portfólio e reinvestimento dos seus dividendos.
Ao disseminar e adotar essa estratégia, a filha dele, Louise Barsi, investidora profissional, economista e analista CNPI e sócia da iniciativa AGF (Ações Garantem o Futuro) - um ecossistema de conhecimento e educação-, comenta que a rentabilidade em proventos, no longo prazo, pode ser determinante no retorno total ao acionista.
“O efeito bola de neve que o juro composto produz no reinvestimento dos dividendos é capaz de potencializar o retorno”, diz. Sendo assim, ela ressalta que os investidores não podem subestimar os dividendos nominais que inicialmente são baixos.
Ela exemplifica com as ações da Itaúsa (ITSA4), que em 10 anos até 31 de março deste ano, tiveram retorno de 7,5%, ficando abaixo do Ibovespa (9,8%), CDI (9,3%) e dólar (8,2%). Entretanto, considerando o reinvestimento dos seus dividendos, o desempenho foi de 14,5% no mesmo período.
De acordo com Louise, nessa linha estratégica, é preciso olhar para empresas cujos fluxos de caixa sejam positivos e previsíveis, que pertençam a segmentos perenes, tenham receitas corrigidas pela inflação e, logicamente, políticas e históricos bem definidos de distribuição de proventos. “Geralmente, as empresas que se encaixam dentro dessas características pertencem ao que chamamos de setores BESST: Bancos, Energia, Seguro, Saneamento e Telecom”, explica. São setores defensivos e regulados, com maior nível de maturidade.
“Na América Latina vigora uma cultura muito forte de dividendos. Os investidores buscam as chamadas ‘ações de viúvas’ para terem renda passiva”, avalia Einar Rivero, especialista em dados financeiros de mercado, CEO da Elos Ayta Consultoria.
Contudo, ele alerta que são necessárias análises aprofundadas sobre as companhias pagadoras de dividendos. Os investidores devem ficar por dentro da qualidade do dividend yield (DY), que mede a rentabilidade dos dividendos (relação entre o valor de dividendos distribuídos em determinado período e a cotação da ação). E cabe aos profissionais do mercado, incluindo de Relações com Investidores, Analistas, Consultores e Gestores, informá-los.
Einar Rivero destaca, que em alguns casos, o dividend yield pode ser alto porque o denominador caiu, ou seja, o preço da ação recuou, e não necessariamente pelo fato de a empresa estar prosperando e distribuindo mais dividendos, além disso o DY pode estar inflado por algumas situações de aumento de lucro que pode não se repetir.
No mercado, há diversas teorias que indicam que os dividendos não são o único fator que pode afetar positivamente os preços das ações, porém, um dos mais importantes, comenta André Rocha, economista, mestre pela FGV/EPGE, advogado e analista certificado pela Apimec.
Por exemplo, o Modelo de Gordon, que mostra que o crescimento do lucro por ação e dos dividendos pagos por ação tem efeitos positivos nas cotações. Uma outra é a Teoria da Sinalização, que postula que a política de dividendos e a distribuição desses proventos pode transmitir informações sobre a saúde financeira e perspectivas futuras favoráveis das companhias. E tem ainda a Teoria do Pássaro na Mão, que diz que os investidores, quando confrontados com incertezas, preferem a previsibilidade do pagamento de dividendos à possibilidade de ganhos de capital no futuro. No entanto, também existem linhas divergentes.
Rocha, que começou a trabalhar no mercado no início dos anos 90, diz que notou empiricamente que os dividendos influenciavam de forma positiva o retorno das ações, até que um dia decidiu fazer um estudo.
Ele analisou os papéis do Ibovespa de 1996 a 2016, calculando a variação de preços e o dividend yield nesses 20 anos de amostra. Por fim, o levantamento indicou significância estatística. “O estudo mostrou uma correlação positiva, ou seja, sinalizou que quanto maior o dividend yield, mais andaram os preços das ações”, comenta.
Por outro lado, André Rocha chama a atenção para a “falácia das carteiras de dividendos nas crises”. De forma geral, as companhias generosas no pagamento de dividendos costumam cair menos do que o Ibovespa em momentos de turbulência no mercado e, por esse motivo, são chamadas de defensivas, sendo largamente recomendadas por profissionais de investimentos. Entretanto, nessas situações, ele defende o senso crítico, antes de novos investimentos em ações ou mudanças nos portfólios. Isso porque justamente nas crises podem surgir alternativas melhores para diversificação em outras categorias com menor risco como títulos públicos ou fundos DI.
“As ações não existem no vácuo, elas competem com outros ativos. Veja agora o Tesouro IPCA, que está pagando IPCA mais 6% ao ano, com juros semestrais e vencimento em 2040. Dificilmente uma pagadora de dividendo compete com isso”, acrescenta o analista.
Outro ponto de alerta é que, embora se fale muito na previsibilidade de alguns setores na distribuição de dividendos, especialmente pelas companhias elétricas devido ao fluxo mais constante de geração de caixa, André Rocha diz que é uma condição que tem se alterado. “De 10 anos para cá, essa previsibilidade diminuiu porque diversas empresas do setor elétrico estão se tornando mais sofisticadas, diversificando suas atuações”, avalia.
O imbróglio da Petrobras
A Assembleia Geral Ordinária de acionistas da Petrobras, realizada no dia 25 de abril último, aprovou a distribuição de 50% de dividendos extraordinários da estatal referentes ao exercício social de 2023.
Esse acabou sendo o desfecho de um imbróglio que vinha se arrastando desde março, quando saiu o balanço da companhia referente ao ano passado, registrando lucro líquido de R$ 124,6 bilhões, o segundo maior da sua história. Na ocasião, o Conselho de Administração da Petrobras, formado por representantes da União em sua maioria, informou que faria a retenção dos dividendos extraordinários devido à necessidade de novos investimentos.
Apesar da diretoria da companhia ter sugerido a distribuição de 50% dos valores, o Conselho julgou necessário avaliar o cenário, adiando o pagamento desses proventos para outro momento. Essa decisão teve impacto negativo nas ações da Petrobras – tanto as ordinárias quanto as preferenciais, que recuaram mais de 10% em um único dia.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegou a defender a retenção dos valores e todo esse impasse em torno dos dividendos quase causou a demissão de Jean Paul Prates da presidência da Petrobras.
No entanto, com a aprovação do pagamento dos dividendos extraordinários em assembleia, o valor de mercado da companhia passou a se recuperar.
A União que detém a maior parte das ações, irá receber cerca de R$ 6 bilhões. Ao todo, são R$ 21,9 bilhões em dividendos extraordinários, com pagamentos para maio e junho deste ano.
Falando em seu nome pessoal e não da empresa, Francisco Petros, advogado e economista, membro do conselho de administração da Petrobras, recém reeleito pelos acionistas privados, ressalta que os principais argumentos para a decisão de dividendos são disponibilidade imediata de caixa e expectativas de médio e longo prazo de formação do caixa; a avaliação da conjuntura e do risco sistemático em relação aos dispêndios operacionais e investimentos da empresa no período prospectivo e uma avaliação dos diretores e conselheiros de administração sobre o retorno marginal de investimentos comparativamente ao custo de oportunidade dos acionistas. Na petrolífera, eram justamente os pontos que estavam em jogo.
Petros ressalta que sua posição foi de defesa da distribuição de 100% dos dividendos extraordinários, referentes ao exercício de 2023. “O pagamento integral dos dividendos extraordinários, além dos que fazem parte da política de remuneração aos acionistas, não impede que a empresa possa avaliar investimentos e a situação de caixa para período prospectivo”, afirma.
Nesse debate sobre o futuro, para Roberto Teixeira da Costa, se a Petrobras não fizer reservas adequadas para investimentos, poderá ter sua competitividade afetada, afinal é essencial lidar com as mudanças em curso na matriz energética mundial. “A companhia tem que pensar nos dividendos, sempre respeitando uma projeção de caixa para fazer face a investimentos programados”, ressalta o ex-presidente da CVM.
O mercado ficará monitorando se, de fato, serão projetos capazes de dar bons retornos, principalmente por existir uma sombra no passado recente, acrescenta André Rocha. “Infelizmente, vimos em 2014, a Petrobras com investimentos muito ruins, que levaram a um endividamento absurdo. Depois, a empresa acabou conseguindo rolar suas dívidas e se recuperou”, lembra o analista.
De acordo com Einar Rivero, as interferências políticas como no caso dos dividendos da Petrobras são prejudiciais, principalmente porque o país depende dos investidores estrangeiros para desenvolver seu mercado de ações. “A liquidez na Bolsa brasileira é baixa. Os estrangeiros buscam, em sua maioria, ações que negociam pelo menos US$ 5 milhões por dia e a quantidade de ativos com esse volume é pequena. O risco de intervenções do governo, seja para manipular a distribuição de dividendos ou políticas de empresas, causa a fuga de investidores estrangeiros e atrasa a expansão do nosso mercado no cenário internacional.”
Papel do conselho de administração e melhores práticas
Francisco Petros destaca que, apesar de avanços regulatórios no país, o grande desafio da governança corporativa está na sua efetividade. “Nós temos um arcabouço de governança corporativa muito bem colocado no Brasil, seja na Lei das S/A, na Lei das Estatais e por parte da CVM, dos tribunais, das jurisprudências e da doutrina. Todavia, a boa governança corporativa de empresas privadas ou estatais depende da capacidade concreta de administradores, diretores e acionistas exercê-la”, avalia. Segundo ele, muitas vezes, essa função não é exercida adequadamente no sentido de cumprir os deveres de diligência.
O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) apresenta em seu código de melhores práticas um item específico sobre política de distribuição de resultado.
“O papel fundamental do conselho de administração é equilibrar o interesse dos acionistas e a necessidade de investimentos da companhia”, diz Edna Holanda, coordenadora da Comissão de Mercado de Capitais do IBGC.
De acordo com ela, é atribuição do conselho é estruturar a política de dividendos e submetê-la à assembleia de acionistas. No documento, devem constar os parâmetros de referência para a definição do montante de proventos a ser distribuído - que em geral é uma porcentagem do lucro líquido ajustado, mas há outros aspectos que podem ser incorporados como limite de endividamento -, bem como a periodicidade dos pagamentos (mensal, trimestral, anual, etc.). Também devem ser explicadas as circunstâncias e fatores que podem afetar a distribuição de resultado.
Outro ponto fundamental da política de dividendos é expor a frequência na qual será revisada. “As políticas de dividendos não podem ser ‘escritas na pedra’, pois as empresas e os cenários são dinâmicos. Então, os conselheiros têm que ter a sensibilidade de avaliar como está a situação econômico-financeira da companhia para fazer a revisão e levar à assembleia para aprovação”, ressalta Edna, comentando que nos sites de Relações com Investidores das companhias, é possível acessar as políticas de remuneração aos acionistas facilmente.
Rankings das maiores pagadoras de dividendos
As maiores pagadoras de dividendos nos últimos 5 anos (até 16/04/2024) são: Petrobras (PETR4), Bradespar (BRAP4) e Taesa (TAEE11), respectivamente, com dividend yield (DY) de 27,56%, 11,35% e 11,22%, na mediana.
É o que revela levantamento exclusivo da Elos Ayta Consultoria para a Revista RI, considerando o universo de empresas listadas na B3 com DY mínimo de 3% em cada ano e volume médio diário negociado de ações acima de R$ 1 milhão. No ranking, se destacam empresas do setor de energia, bancos, seguradoras e telecomunicações.
Para dar outra visão, a Elos Ayta Consultoria preparou um outro estudo sobre as companhias com maiores desembolsos de dividendos entre 2021 e 2023. Portanto, são valores que efetivamente saíram do caixa a cada ano.
A Petrobras (PETR4) ficou na liderança, com R$ 365,5 bi em dividendos desembolsados nesses três anos, representando dividend yield, na mediana, de 29,58%.
A Vale aparece em segundo lugar em valor distribuído no período, totalizando R$ 135,4 bilhões, mas a mediana do dividend yield foi abaixo de 9,73%.
A lista conta com maior participação de empresas de commodities e do setor financeiro. “O que chama a atenção é que Itaú (ITUB4) e Bradesco (BBDC4) ficaram abaixo de empresas como JBS (JBSS3) e Ambev (ABEV3) em dividend yield”, comenta Einar Rivero, CEO da Elos Ayta.
Quais são as ações com potencial de serem as melhores pagadoras de dividendos em 2024?
A Elos Ayta Consultoria fez uma projeção, levando em consideração empresas listadas na B3 que tiveram crescimento dos lucros líquidos em 2023 sobre 2022 – sendo que, como costuma acontecer, a maioria deve distribuir os dividendos no ano seguinte, neste caso, em 2024. Também foram considerados somente os papéis com volume médio diário de negociação na Bolsa superior a R$ 1 milhão.
Então, foi calculada a mediana do dividend yield em 2022 e 2023 para, depois, projetar o DY das companhias para 2024. “Para calcular o dividend yield projetado, utilizamos o preço das ações em 31 de dezembro de 2023. Pegamos o preço da ação nessa data e consideramos que o volume de dividendos e JCPs no ano passado serão distribuídos também em 2024, em valor igual ou superior, e que a política de distribuição de dividendos não mude”, explica Einar Rivero.
Outro aspecto desse levantamento é o EV/Ebitda, um indicador que relaciona o valor da companhia com o seu Ebitda, demonstrando se a ação está cara ou barata.
As avaliações sobre companhias devem ser mais abrangentes, mas em linhas gerais, quanto menor o EV/Ebitda, mais barata a ação e vice-versa. Para os bancos, foi usado o índice preço/lucro que segue a mesma lógica.
Pelas projeções da Elos Ayta Consultoria, as 10 ações mais promissoras – com maiores dividend yield projetados para o ano, são Mahle-Metal Leve (LEVE3), Copasa (CSMG3), Mitre Realty (MTRE3), Melnick (MELK3), Cemig (CMIG4), BB Seguridade (BBSE3), CSN Mineração (CMIN3), BR Partners (BRBI11), ISA CTEEP (TRPL4) e Banco do Brasil (BBAS3).
A Revista RI conversou com representantes de Relações com Investidores de algumas empresas que se destacaram no ranking de maiores dividend yield (DY) nos últimos 5 anos e que também aparecem nas projeções de melhores DY em 2024.
A ISA CTEEP (TRPL4), companhia de transmissão de energia elétrica, adota como prática a distribuição de proventos de, no mínimo, 75% do lucro líquido regulatório (utilizado como proxy da geração de caixa). A prática prevê ainda a possibilidade de pagamento de dividendos intercalares.
“Buscamos manter a nossa solidez financeira e equilibrar investimentos com crescimento e distribuição de proventos, com a alocação responsável dos recursos da companhia, mantendo uma alavancagem adequada. Assim, a nossa nota de crédito é brAAA pela Fitch, o que nos permite captar recursos a custos competitivos e seguir gerando valor”, comenta Carisa Cristal, diretora-executiva de Finanças e RI da ISA CTEEP.
Segundo Carisa, a empresa arrematou 19 projetos greenfield em leilões de transmissão. Com esforços de gestão, foram construídos 12 empreendimentos em 5 anos, que adicionaram cerca de R$ 650 milhões à receita anual da companhia. Outros sete projetos estão em construção com investimento remanescente de cerca de R$ 10 bilhões que, quando energizados, habilitarão o recebimento de mais R$ 972 milhões de receita por ano. Além disso, a ISA CTEEP conta com uma carteira de projetos de reforços e melhorias, autorizados pela ANEEL, que compreendem investimentos totais de aproximadamente R$ 5 bilhões, programados para serem executados ao longo dos próximos cinco anos e possuem uma relação de receita anual/investimento que varia entre 12-17%.
Como política de dividendos, a Administração da Engie Brasil Energia, que atua com energia renovável, geração, comercialização de energia elétrica, transporte de gás e outras soluções energéticas, assumiu um compromisso de distribuição de no mínimo 55% do lucro líquido ajustado, acima da obrigação estatutária de distribuir 30% e com frequência de pagamento semestral. Entretanto, sempre que possível, a companhia distribui 100% do lucro líquido ajustado, como pôde ser observado em 2020, 2021 e 2022.
“Nos últimos anos tivemos oportunidade de realizar um payout acima do mínimo estabelecido, chegando diversas vezes a 100% do lucro líquido ajustado. Parte dos investidores acabaram tomando esse patamar como se o fosse o compromisso mínimo assumido. Nesse caso, nosso papel foi esclarecer que a política dá liberdade à administração para reduzir o payout até 55% do lucro líquido ajustado, quando existe necessidade de caixa, seja por ajuste da estrutura de capital, por compromissos assumidos com crescimento da capacidade instalada de nossos ativos ou outros fatores”, comenta Eduardo Takamori, diretor financeiro e de RI da Engie.
Em 2023, a Engie alcançou marcos significativos, como a conclusão da venda da Usina Termelétrica Pampa Sul (último ativo a carvão do portfólio), tornando-se a maior geradora de energia elétrica 100% renovável do Brasil. No ano passado, a empresa investiu mais de R$ 2,9 bilhões em energias renováveis e linhas de transmissão e tem previsão de investir mais R$ 13,8 bilhões entre 2024 e 2026. “Esses esforços refletem o compromisso da empresa com a sustentabilidade e a transição para uma sociedade neutra em carbono”, acrescenta o diretor.
Por sua vez, a Telefônica Brasil não tem uma política que determine o payout, porém, usualmente distribui como proventos valores próximos a 100% do lucro líquido ajustado gerado a cada ano.
“Nós somos os líderes do mercado de telecomunicações do Brasil, com maior market share de acessos e receitas em móvel pós-pago e pré-pago e em banda larga fibra. Nos últimos anos, o serviço de conectividade cresceu em relevância e demanda, e nossa liderança foi refletida em resultados superiores”, destaca Gabriel Menezes, gerente sênior de RI da Vivo.
De acordo com ele, a companhia vem expandindo o portfólio em novas verticais como serviços financeiros, de entretenimento, saúde e bem-estar e vendas de eletrônicos no B2C, como também serviços de cloud computing, cibersegurança, Internet das Coisas (IoT) no B2B. “São novas avenidas de negócios que culminam em uma expansão relevante do fluxo de caixa livre, reforçando nossa capacidade de remunerar os acionistas”, destaca Menezes.
Os executivos de RI da ISA CTEEP, Engie Brasil da Telefônica Brasil enfatizam que o papel dos RIs é fundamental para disseminação das estratégias de negócios, transparência das informações e dados financeiros, incluindo como é a estrutura de remuneração aos acionistas.
As três empresas têm a prática de divulgar nos seus resultados, tanto a performance das duas ações, quanto seus retornos considerando também o reinvestimento dos dividendos nos seus papéis.
“O RI é o porta-voz dos dados e deve mostrar como é a remuneração dos acionistas, o que está por trás dos dividendos, divulgar o dividend yield e a rentabilidade sobre o patrimônio”, acrescenta Einar Rivero, da Elos Ayta.
Fundos de dividendos que mais entregaram em 5 anos
Os 20 fundos de ações dividendos com melhores desempenhos em 5 anos, até 12 de abril de 2024, também foram revelados em outro estudo exclusivo para a Revista RI. Os retornos vão de 18,45% a 217,48% no período. As gestoras que se destacam nas três primeiras posições são a Trígono Capital, Plural Invest Gestão de Recursos e BB Gestão de Recursos DTVM.