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DADOS SOBRE DIVERSIDADE DE GÊNERO E RAÇA SINALIZAM DESAFIOS PARA AS ORGANIZAÇÕES

Em março de 2024, o IBGC publicou a pesquisa Análise da diversidade de gênero e raça de administradores e empregados das empresas de capital aberto, um consistente conjunto de dados e informações para subsidiar a necessária ampliação do pluralismo nas organizações. Este é um avanço desejável e significativo, não apenas para o êxito dos negócios, como para sua contribuição ao desenvolvimento da sociedade.

Seguindo uma tendência mundial, o Brasil tem acompanhado um aumento nessas discussões, na esteira da evolução de novas regras e procedimentos da B3, do mercado, dos investidores e da sociedade. É nesse contexto que se insere o estudo do IBGC, cujas informações são bastante atuais e foram coletadas no Portal Dados Abertos da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), em 8 de janeiro último, tendo como referência dezembro de 2023. Em anos anteriores, essa pesquisa do IBGC abordava apenas as questões referentes à participação feminina nos conselhos e diretorias; agora, houve uma ampliação desse escopo, e as questões de caráter étnico foram incluídas. Isso foi possível a partir da exigência de divulgação de dados de gênero e raça, não só para os administradores, mas também para os empregados de empresas listadas em bolsa, por meio da Resolução CVM nº 59 de 2021.

Assim, a pesquisa abordou 394 empresas, com 5.149 profissionais (805 mulheres e 4.344 homens). Também analisou a diversidade de gênero e raça autodeclarada por 3.231.643 colaboradores das organizações da amostra. Quanto à etnia, 81,1% dos cargos em conselhos e diretorias são ocupados por brancos. No que diz respeito aos empregados, também há concentração de brancos, embora menos expressiva se comparada aos administradores. Dos 3.231.643 funcionários avaliados, 38,9% são brancos e a maioria dos que ocupam cargos de liderança, também (56,2%).

No que diz respeito ao gênero, 82,7% das 394 empresas analisadas têm pelo menos uma mulher atuando em órgãos da administração, mas o avanço foi mínimo, pois eram 82,5% na pesquisa anterior. E, apesar dessa porcentagem superior a 80%, apenas 15,8% dos cargos de liderança são ocupados por executivas. Em 2021 (primeiro ano de avaliação), 12,8% dos postos de gestão eram ocupados por mulheres. Outros dados da pesquisa atual indicam que 67% das empresas contam com mulheres no conselho de administração e 42,4%, na diretoria.

Desse modo, o cenário indica que a proporção de mulheres em cargos da administração tem aumentado nos últimos quatro anos, mas de modo pouco expressivo. Elas ocupam, em média, 22,8% dos assentos dos conselhos de administração que têm pelo menos uma conselheira. Tais colegiados das empresas listadas no segmento básico apresentam a maior proporção média de mulheres (25,7%). A diversidade de gênero é um pouco maior entre os empregados, em comparação à administração. Dos 3.231.643 funcionários analisados, 52,6% são do gênero masculino e 37,9%, feminino. Não binários representam 0,02% (há ainda uma porcentagem de não-respondentes). A maior concentração feminina está no Novo Mercado (41,8% dos empregados deste segmento).

Dentre os ocupantes de posições de liderança, 50,3% são do gênero masculino, 31,4%, feminino e 0,02%, não binários (aqui, também há uma porcentagem de não-respondentes). A maior concentração das profissionais do gênero feminino em cargos de liderança está também no Novo Mercado (34,6%).

Quanto à diversidade de raça na administração, a pesquisa evidencia que 81,1% dos conselheiros e diretores são brancos. Em seguida, estão os pardos, com apenas 3,2% de representação. Gestores pretos e indígenas não atingem 1% da amostra. Conselheiros e diretores brancos representam mais de 75% dos profissionais em todos os segmentos de listagem. Os brancos também são maioria em todos os órgãos da administração, com representação superior a 70%. O Novo Mercado é o segmento com a maior proporção de administradores brancos (82,4%), enquanto o Básico tem a maior representação de pretos (0,9%), pardos (4,4%) e amarelos (2,1%).

Com relação aos empregados, 38,9% são brancos, 29,9%, pardos e 8,6%, pretos. Amarelos e indígenas são os menos representados: apenas 1,3% e 0,4% da amostra, respectivamente. O Novo Mercado é o segmento com menor proporção de empregados brancos (34,4%) e com maior proporção de pardos (32,1%). O Básico tem a maior representação de pretos (10,6%). A maioria dos empregados em posições de liderança são brancos (56,2%), seguidos por pardos (22,2%). A representação de brancos é menos concentrada dentre aqueles que não ocupam posições de liderança (37,2%) e a proporção de pardos é maior entre tais profissionais (30,6%).

A pesquisa do IBGC permite analisar as oportunidades e espaços para a ampliação do número de mulheres e representantes de grupos sub-representados nas diretorias estatutárias, conselhos e demais cargos de liderança nas empresas brasileiras. Ao disponibilizar esse mapeamento, contribui para que as organizações possam estabelecer e divulgar planos, metas e métricas, de modo a agilizar tais avanços, cujos resultados tornam-se cada vez mais um valor tangível, não apenas para o desempenho dos negócios como para o valor que agregam à sociedade.

Companhias mais diversas na sua estrutura de governança corporativa ampliam sua visão de mercado, de processos e de objetivos socioambientais, que transcendem aos resultados financeiros e aprimoram seus processos de tomada de decisões. A pluralidade impulsiona a inovação, estimula a sustentabilidade e promove mais vigor na interação com stakeholders.

Portanto, a pauta da diversidade deve ser uma das prioridades dos conselhos de administração, que são os responsáveis por guiar a estratégia das empresas, devendo ser os guardiões e disseminadores de suas crenças, propósitos, missões e valores. Ademais, devem considerar as tendências e anseios do público consumidor, clientes, fornecedores e todo o mercado. Nesse contexto, é fundamental a consciência de que, cada vez mais, a diversidade será indissociavelmente atrelada à performance e à reputação das organizações.

Luiz Martha
é gerente de Pesquisa e Conteúdo do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC).
comunicacao@ibgc.org.br


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