Sustentabilidade

COMO MENSURAR FINANCEIRAMENTE O IMPACTO DAS PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS?

Diversas pesquisas apontam que a adoção de iniciativas sustentáveis pelas empresas frequentemente vem sendo motivada por pressões externas, como demandas de stakeholders ou o alinhamento com tendências setoriais. Essa dinâmica não é nova. Já em 2004, Hart e Milstein em “Criando Valor Sustentável” concluem que, entre os principais fatores motivadores da adoção de práticas sustentáveis nas empresas, estão pressão da sociedade, necessidade de capital e concorrência.

O movimento continua e estudo da Data Makers de 2023 revelou que 85% dos executivos consideram a preservação da imagem da empresa como a principal motivação para implementar práticas ESG (ambientais, sociais e de governança). Além disso, 65% destacaram a reputação corporativa como um fator determinante para essas iniciativas.

Será que o argumento da reputação e preservação de imagem sobreviverá as tendências de desaceleração da agenda ESG que temos assistidos? A resposta a essa pergunta virá com o tempo. No entanto, existem caminhos e estratégias que podem ser adotadas para a continuidade da agenda.

Muitas vezes as empresas enfrentam dificuldades em reconhecer e mensurar de forma precisa os retornos concretos, incluindo os financeiros, dessas ações de sustentabilidade. Uma publicação recente, de 2025, da Harvard Law School, The Sustainability Dividend: A Primer on Sustainability ROI revela que quase 40% dos executivos não confiam na capacidade de sua empresa de avaliar o impacto financeiro de seus investimentos em sustentabilidade.

Além disso, a pesquisa Panorama ESG 2024 da Amcham Brasil indicou que 40% das organizações brasileiras que já adotam práticas ESG relataram dificuldades na mensuração de indicadores, indicando desafios na avaliação dos retornos concretos dessas iniciativas.

Essa dinâmica revela que a implementação de práticas sustentáveis é frequentemente impulsionada mais por fatores externos do que pelo entendimento claro do potencial retorno positivo dessas iniciativas para o negócio. Assim, quantificar financeiramente os impactos e os retornos gerados por ações de sustentabilidade pode ser uma ferramenta estratégica valiosa para ampliar a adesão interna e maximizar os benefícios organizacionais.

Nesse sentido, existem diversas metodologias que permitem avaliar os benefícios e custos associados a investimentos de capital. Entre essas metodologias, o ROI de Sustentabilidade (SROI) destaca-se como uma abordagem interessante para capturar os benefícios gerados por práticas sustentáveis corporativas. O SROI busca mensurar o retorno econômico-financeiro de projetos de sustentabilidade nas empresas, auxiliando as empresas a identificar e simular os ganhos provindos de investimentos em sustentabilidade, fornecendo ferramentas para gestores estabelecerem estratégias de investimento alinhadas à lucratividade de longo prazo e à gestão de riscos.

No cálculo do SROI, maximizar seu potencial exige uma análise detalhada das vantagens competitivas da sustentabilidade para a empresa. Essas vantagens depois se traduzem, em termos financeiros, em aumento das receitas ou redução de despesas e consequente aumento de valor. Com base no artigo The Sustainability Dividend, foram adaptadas algumas possibilidades de fatores de sustentabilidade que trazem retorno, tais como:

  • Otimização de custos operacionais: Redução de desperdícios, economia de materiais, eficiência energética e melhorias em processos produtivos.
  • Redução de despesas em instalações: Menor consumo de energia, otimização de espaços e redução de custos com viagens.
  • Crescimento da receita: Novos produtos sustentáveis, fidelização de clientes e expansão de oportunidades de negócio.
  • Menor exposição a riscos e melhor acesso a financiamento: Redução de restrições regulatórias, passivos ambientais e custo de capital, aumentando a atratividade para investidores.
  • Facilidade na contratação e retenção de talentos: Redução de custos com recrutamento, treinamento e turnover, além de atração de profissionais qualificados.
  • Aumento da produtividade dos colaboradores: Melhor engajamento e condições de trabalho resultam em maior eficiência e lucro.

Para a realização da análise financeira de um projeto, a empresa deve considerar dois cenários: um cenário-base sem o projeto, e outro, considerando a implementação do projeto de sustentabilidade. A diferença nos resultados financeiros entre os dois cenários representa o retorno financeiro adicionado ou subtraído por seu investimento.

Dessa forma, ao implementar projetos de sustentabilidade, as empresas terão em mente que essas ações não devem ser encaradas apenas como um custo adicional, mas como um investimento estratégico com potencial de trazer benefícios financeiros e operacionais.

Essa abordagem é reforçada pela publicação da ERM Transformation Survey: Tackling the Transformation, de 2024, que aponta que, entre as principais barreiras para o avanço das práticas ESG e de sustentabilidade nas empresas, estão a falta de incentivos financeiros para liderança/funcionários e os retornos comerciais e de mercado insuficientes.

Ambos os fatores poderiam ser solucionados por uma melhor mensuração do retorno de iniciativas sustentáveis, já que a demonstração clara dos benefícios financeiros e operacionais dessas ações permitiria que as empresas justificassem melhor seus investimentos em sustentabilidade. A capacidade de quantificar o impacto positivo das práticas ESG facilitaria a criação de incentivos internos, promovendo um maior engajamento da liderança e dos funcionários.

Além disso, como visto, muitas vezes os retornos comerciais e de mercado dessas iniciativas não são inexistentes ou insuficientes, mas sim subestimados ou pouco quantificados. Ao aprimorar a mensuração dos impactos positivos da sustentabilidade, as empresas poderiam evidenciar como essas práticas contribuem para a redução de custos operacionais, o aumento da eficiência, a atração de investimentos, a fidelização de clientes, entre outros.

Além disso, uma mensuração mais precisa dos retornos sustentáveis poderia melhorar o acesso a financiamentos sustentáveis e atrair investidores que buscam empresas com estratégias sólidas de longo prazo. Aprimorar os métodos e ferramentas de mensuração de impacto não apenas auxiliaria as empresas na tomada de decisões mais estratégicas, mas também impulsionaria a sustentabilidade como um fator de crescimento e inovação, alinhando cada vez mais os objetivos ambientais e sociais com o sucesso financeiro e operacional.

Felipe Nestrovsky
é CSCC Consulting Partner na ERM.
felipe.nestrovsky@erm.com

Laura Criado
é CSCC Consulting Assistant na ERM.
laura.criado@erm.com


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