Opinião

PONTOS DE ATENÇÃO NA ADEQUAÇÃO AO IFRS S1 E S2 E CVM 193

As empresas no Brasil, em especial as de capital aberto, iniciaram o processo de adequação às novas normas IFRS S1 e S2, e à CVM193. A etapa de entender do que se trata e de realizar a análise de lacunas avançou, e testemunhamos agora a busca pelas adequações e melhorias necessárias.

Sob a ótica da governança corporativa, conselheiros e executivos precisam fornecer as diretrizes estratégicas, e estarem atentos às armadilhas desta jornada. Listo neste artigo 6 pontos de atenção que as organizações precisam ter:

  1. Superficialidade de conhecimento no tema e falta de patrocínio pela Alta Direção – ainda há empresas em que os membros da Alta Direção não tiveram um treinamento formal sobre o tema, e não tem plano estruturado para garantir a conformidade da organização. Há ainda iniciativas conduzidas pelos níveis gerenciais, sem o devido apoio da Direção. Sem o apoio da Alta Direção sabemos que a iniciativa estará fadada ao fracasso, e provavelmente ficará desconectada com a estratégia da organização, trazendo riscos para a empresa.
  2. Não envolvimento da Liderança da Controladoria - o reporte de sustentabilidade terá a mesma relevância dos demonstrativos financeiros. E ambos precisam estar em sincronia. O não envolvimento da liderança que será a responsável pelo novo processo e ambos os reportes, indica a necessidade urgente de ajuste de rumo.
  3. Inexistência de plataformas e workflow – basta fazer um paralelo com os demonstrativos financeiros, cujas informações são obtidas de um ERP, para entender que não é factível ter um relatório de sustentabilidade feito com base apenas em planilhas, e-mails e inputs manuais. Confiabilidade da informação, amarração de dados, rastreabilidade, trilha de auditoria, repositório de evidências são necessários. Reguladores, mercado financeiro e demais stakeholders demandarão informações precisas e confiáveis para a correta avaliação de riscos de cada negócio. E é um pilar que demandará investimentos e planejamento orçamentário por parte das empresas.
  4. Potencial conflito de interesses – há empresas com suporte ou consultoria na adequação ao IFRS S1 e S2 e CVM193 sendo feitos pela mesma empresa que audita ou já auditou os seus demonstrativos e relatórios. É preciso ter atenção com eventuais conflitos de interesses e vieses. Acionistas, conselheiros e investidores já viram este cenário anteriormente, e devem se perguntar se há a independência necessária para apontar os riscos reais aos quais a empresa está exposta. A rotatividade e oxigenação podem ser a oportunidade para trazer novas visões e elementos para a organização.
  5. Inexistência ou incompletude do mapeamento de riscos ESG e riscos relacionados ao clima e sua desconexão com a gestão de riscos corporativos – a boa gestão de negócios inclui a gestão de riscos corporativos, e estes só estão completos se incluem as questões ESG (e não estou falando apenas de riscos ambientais) e os riscos relacionados ao clima. E isto ainda não é uma realidade dominante nas empresas brasileiras. Precisamos reverter este cenário, e adotar práticas já preconizadas pelo TCFD, e se conectam com as demandas do IFRS S2, e ter os riscos físicos e de transição mapeados. E ter atenção com a cadeia de abastecimento, em especial os fornecedores críticos.
  6. Falta de conhecimento das áreas envolvidas no processo de reporte de sustentabilidade – há novas regulamentações, novos processos são necessários. É fundamental definir estes processos, atualizar políticas e procedimentos, e treinar todos os profissionais das áreas envolvidas. Um erro, intencional ou não, pode levar a falhas materiais na divulgação do relatório de sustentabilidade, tendo como consequência sanções para a organização e seus diretores estatutários.

A jornada apenas começou. Evitar as armadilhas citadas acima é fundamental para o sucesso na conformidade regulatória e nos negócios.

Jefferson Kiyohara
é diretor de Compliance & Sustentabilidade na ICTS Protiviti, empresa especializada em soluções para gestão de riscos, compliance, ESG, auditoria interna, investigação e proteção e privacidade de dados, e professor da FIA.
jefferson.kiyohara@protiviti.com.br


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