Direito Societário | Diversidade | Economia Verde | Educação Financeira |
Em Pauta | Espaço Apimec Brasil | Gestão | IBGC Comunica |
IBRI Notícias | Livro | Opinião | Orquestra Societária |
Sustentabilidade | Voz do Mercado |
A materialidade é um conceito fundamental tanto na contabilidade quanto no relato integrado e de sustentabilidade. Contudo, observa-se frequentemente que o tema é abordado de forma superficial em ambas as áreas. No âmbito da sustentabilidade, o processo muitas vezes se torna excessivamente dependente de pesquisas com stakeholders, sem que haja uma análise aprofundada dos impactos dos temas materiais. Inclusive, é comum notar pouca discussão sobre impactos financeiros (fatores quantitativos). Na contabilidade, por sua vez, a discussão frequentemente se concentra excessivamente nos fatores quantitativos, negligenciando os fatores qualitativos, que demandam maior julgamento, tema abordado no IFRS Practice Statement 2: Making Materiality Judgements.
A análise de materialidade com base em fatores qualitativos exige maior grau de julgamento, pois envolve avaliar aspectos contextuais, expectativas dos usuários e impactos potenciais.
No Brasil, o conceito de materialidade financeira atrelada à sustentabilidade se tornará mais evidente a partir do relatório do Exercício Social de 2026. Nesse momento, as empresas de capital aberto (Resolução CVM nº 193) e os maiores bancos (Resolução CMN nº 5.185) começarão a divulgar, obrigatoriamente, seus relatórios em conformidade com as novas normas.
A Norma IFRS S1 / CBPS 01 exige que as empresas divulguem informações materiais sobre riscos e oportunidades relacionados à sustentabilidade que possam impactar seus fluxos de caixa, acesso a financiamento ou custo de capital no curto, médio e longo prazos. Em outras palavras, um tema é considerado financeiramente material quando sua omissão, distorção ou obscurecimento pode influenciar as decisões dos principais usuários dos relatórios financeiros, como investidores, credores e analistas financeiros. Essa definição do International Sustainability Standards Board (ISSB) reforça a necessidade de uma conexão robusta entre sustentabilidade e finanças.
O conceito de materialidade financeira parte da mesma base conceitual tanto para contabilidade quanto para sustentabilidade, conforme as definições do International Accounting Standards Board (IASB) e do ISSB, estruturas da IFRS Foundation responsáveis pelas normas contábeis e de divulgação de sustentabilidade, respectivamente.
Ressalta-se que no Brasil, assim como temos Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) que recepciona as normas do IASB, temos o Comitê Brasileiro de Pronunciamentos de Sustentabilidade (CBPS), que é o responsável pela recepção das normas do ISSB, assim ambos, respectivamente, realizam o preparo e a emissão de documentos técnicos sobre padrões de contabilidade e divulgação sobre sustentabilidade, viabilizando a emissão de normas pelas entidades reguladoras brasileiras.
Materialidade financeira vs. dupla materialidade
Enquanto a IFRS S1 / CBPS 01 foca na materialidade financeira, reguladores europeus adotam a dupla materialidade, que considera:
Empresas que reportam sob ambos os padrões precisam equilibrar essas abordagens, garantindo interoperabilidade entre as normas globais e evitando redundâncias ou informações conflitantes. Essa harmonização é essencial para uma comunicação eficaz e transparente com todos os stakeholders.
Como determinar a materialidade
A IFRS Foundation recomenda um processo estruturado em quatro etapas para a determinação da materialidade:
Nota: Tradução livre do diagrama publicado pela IFRS Foundation.
Desafios para empresas de capital aberto
A aplicação da materialidade financeira no contexto da IFRS S1 / CBPS 01 apresenta desafios importantes, a saber:
Como os investidores podem se beneficiar da materialidade financeira
Para os investidores, a materialidade financeira aplicada à sustentabilidade representa uma evolução significativa na forma como riscos e oportunidades são incorporados às decisões de investimento. Ao alinhar as divulgações corporativas aos padrões estabelecidos pelas IFRS S1 e S2 (respectivamente CBPS 01 e 02), os investidores passam a contar com informações mais robustas e auditáveis sobre sustentabilidade, permitindo um refinamento nas técnicas de modelagem financeira.
Algumas aplicações práticas incluem:
Portanto, a adoção da IFRS S1 / CBPS 01 e a crescente integração entre ESG e contabilidade financeira não apenas aumentam a confiabilidade das informações corporativas, mas também ampliam a capacidade dos investidores de antecipar e mitigar riscos, alocando recursos de maneira mais eficiente e alinhada a um mercado sustentável.
Conclusão
As normas de divulgação de sustentabilidade IFRS marcam um avanço significativo na integração entre sustentabilidade e finanças. As empresas precisam, efetivamente, aprimorar metodologias e conectar ESG à contabilidade, gestão de riscos, estratégia e governança corporativa para atender aos novos requisitos. Para analistas e investidores, a norma oferece um filtro mais claro para avaliar riscos e oportunidades ESG, promovendo decisões mais informadas e alinhadas a um mercado sustentável.
A convergência entre diferentes frameworks ainda está em evolução, e acompanhar essas mudanças será essencial para garantir conformidade, transparência e relevância nos relatórios corporativos. A adaptação contínua é fundamental para o sucesso nesse novo cenário.
Para acompanhar esse processo, podem acessar: https://www.facpcs.org.br/CBPS.
Denys Roman
é Administrador, Mestre em Sustentabilidade, Doutorando em Finanças, atua como Coordenador da Comissão de Valuation - Setorial com ESG da APIMEC Brasil, Coordenador da CBARI, Membro da Comissão de Mercado de Capitais e Instrutor Credenciado do IBGC, Membro do GT de Educação do CBPS, Fundador e Sênior Advisor da blendON.
denys.roman@blendon.com.br