Orquestra Societária

ECOSSISTEMAS CORPORATIVOS: ORQUESTRANDO CONEXÕES DE VALOR

A publicação do artigo da edição 288: “Da Governança à Sinfonia de Resultados Sustentáveis”, conclusão do Projeto ESG: uma partitura que está sendo escrita, segue conduzindo à necessidade de aprofundarmos alguns conceitos. E é o que fazemos nesta edição, explicando a inserção de um novo elemento na representação da Orquestra Societária: o Ecossistema Corporativo.

O conceito de ecossistema emergiu na Biologia, para descrever a interação entre seres vivos e entre estes e o ambiente ao seu redor. Temos visto esse conceito transposto, principalmente, ao campo da administração de organizações, da esfera das nossas principais expertises, mas o conceito pode ter aplicações em variados contextos.

De forma geral, um ecossistema é um sistema dinâmico, no qual diversos agentes interagem, compartilham recursos e influenciam mutuamente o funcionamento do todo. Esse sistema opera em um ambiente interconectado, abrangendo tanto as relações internas entre seus elementos quanto as influências externas que o afetam e que ele próprio exerce no ambiente externo. Para a sustentabilidade e resiliência do ecossistema, são essenciais o equilíbrio, a capacidade de adaptação e a evolução contínua.

O sucesso e a resiliência de qualquer ecossistema – seja ele natural, urbano, digital, setorial, organizacional ou outro considerado – dependem do equilíbrio entre seus elementos. Quando há harmonia entre os eles, o ecossistema se sustenta e mesmo prospera ao longo do tempo. Ao mesmo tempo, quando ocorre um desequilíbrio relevante, todo o ecossistema pode ser fortemente impactado.

1 – ALGUNS EXEMPLOS DE ECOSSISTEMAS
Tratemos brevemente de alguns exemplos de ecossistemas, para fins de ilustração, a iniciar do caso clássico, egresso da Biologia, nossa base de raciocínio muito brevemente tratada no presente artigo:

a) Ecossistemas naturais

Os ecossistemas naturais servem de modelo para outros tipos de ecossistemas, operando por meio de cadeias alimentares, ciclos de nutrientes e interações ecológicas. Cada organismo desempenha um papel essencial na manutenção do equilíbrio ambiental.

No entanto, fatores como desmatamento descontrolado, poluição e mudanças climáticas podem desestabilizar sistemas inteiros, afetando não apenas espécies específicas, mas todo o funcionamento do ecossistema.

A Floresta Amazônica é um exemplo emblemático e extremamente relevante de um grande conjunto de ecossistemas naturais, caracterizados por biodiversidades únicas, interações complexas entre seres vivos e fatores ambientais, além de seu papel fundamental na regulação do clima e no equilíbrio ecológico global.

b) Ecossistemas urbanos

Os ecossistemas urbanos representam um complexo sistema de interações entre agentes, infraestrutura, meio ambiente e políticas públicas. Assim como nos ecossistemas naturais, a harmonia entre esses elementos é essencial para assegurar a qualidade de vida, a sustentabilidade e o desenvolvimento equilibrado das cidades.

Desafios como crescimento desordenado, desigualdade social, poluição e sobrecarga de infraestrutura podem comprometer o equilíbrio desses ecossistemas, resultando em escassez de moradia, trânsito caótico e degradação ambiental entre outros problemas.

Exemplos de ecossistemas urbanos estruturados incluem o conceito de smart city – eficiente, conectada e sustentável. Segundo Intelligent Community Forum (IFC), organização sem fins lucrativos sediada no Canadá, Curitiba foi eleita a ‘mais inteligente’ do mundo em 2024 e é reconhecida como uma das cidades mais bem planejadas do Brasil. Florianópolis destaca-se pela preocupação com a preservação ambiental. Copenhague (Dinamarca) é referência em mobilidade sustentável e Singapura é considerada modelo de governança e de inovação tecnológica.

c) Ecossistemas digitais

Os ecossistemas digitais a que nos referimos aqui são redes complexas e interconectadas, que operam por meio de plataformas tecnológicas, dados, inteligência artificial e interações entre usuários e sistemas. Assim como nos ecossistemas naturais e nos demais mencionados, o equilíbrio, a capacidade de adaptação e a evolução contínua são cruciais para sua sustentabilidade.

As plataformas tecnológicas de empresas como Alphabet Inc. (Google, YouTube e outras), Meta Platforms Inc. (Facebook, Instagram, WhatsApp e mais) e Amazon exemplificam ecossistemas digitais que conectam bilhões de pessoas globalmente. Essas e outras plataformas formam ecossistemas nos quais diferentes agentes interagem entre si e se complementam em suas necessidades.

As inteligências artificiais se integram aos ecossistemas supracitados. Ferramentas como ChatGPT, assistentes virtuais e algoritmos preditivos entre outras vêm redefinindo a forma como os usuários interagem com a tecnologia, tornando os ecossistemas digitais ainda mais complexos, interdependentes e, mesmo assim, dinâmicos e integrados ao cotidiano.

Desafios como privacidade de dados, governança de TI e normas de uso da IA entre outros, conforme conduzidos, podem desestabilizar esses ecossistemas, exigindo governança, inovação responsável e adaptação contínua em prol da sustentabilidade.

d) Ecossistemas setoriais

Os ecossistemas setoriais, ou seja, correspondentes a setores econômicos, formam a base para indústrias de mesma natureza, operando por meio de redes de inovação, fluxos de capital e interações entre empresas, investidores e consumidores.

Saturação do mercado, mudanças regulatórias e avanços disruptivos podem desestabilizar empresas e comprometer toda a cadeia de valor. Setores que não acompanham as tendências do ambiente mais amplo podem ser severamente impactados. Além disso, as organizações de um setor que ignoram a necessidade de adaptação correm o risco de perder relevância.

São exemplos de ecossistemas setoriais os setores elétrico e de telecomunicações do Brasil, além do setor de tecnologia no Vale do Silício, nos EUA, e o Shenzhen, na China, que se consolidou como um dos mais relevantes ecossistemas de tecnologia e manufatura avançada.

e) Ecossistemas organizacionais

Os ecossistemas organizacionais abrangem stakeholders e a arquitetura organizacional, que, por meio de diferentes interações, influenciam os resultados das organizações. A arquitetura em questão é composta por seis elementos essenciais: estratégia, estrutura, processos, projetos, pessoas e, o sexto, modelo de gestão, que é o estatuto da empresa e coordenador dos demais. Cada elemento tem sua própria complexidade e influencia diretamente a sustentabilidade do ecossistema organizacional.

Ausência de inovação, resistência a mudanças, bem como falhas em processos como governança, gestão, condução da estratégia e comunicação entre outros fatores, podem comprometer a competitividade e a coesão interna das organizações. Isso pode resultar em dificuldades de adaptação ao mercado, baixa eficácia e perda de talentos, entre outros impactos.

Todas as empresas e organizações da economia funcionam como ecossistemas organizacionais.

Além dos exemplos anteriormente apresentados, existem muitos outros. Os países podem ser vistos como ecossistemas políticos, em que seus Poderes Legislativo, Executivo, Judiciário (nas esferas federal, estadual e municipal), os cidadãos e a sociedade interagem. Países também podem ser tratados como ecossistemas econômicos, em que vários mecanismos de governança e economia interagem, como as organizações do Estado, as empresas, os mercados, as redes de negócios e outros.

Os ecossistemas são sistemas interconectados, cujos elementos interagem continuamente uns com outros. Por exemplo, os ecossistemas corporativos não operam de maneira independente, pois eles interagem tanto entre si quanto com outros ecossistemas. Uma empresa, independentemente do seu porte, pode utilizar recursos egressos de vários ecossistemas naturais, impactar ecossistemas urbanos associados às suas operações, integrar-se a distintos ecossistemas digitais, estar inserida em um ou mais ecossistemas setoriais e muito mais.

Conexões ocorrem em múltiplas direções, criando redes complexas de influência mútua. Mudanças em um ecossistema podem gerar efeitos em cascata sobre os demais, por intermédio de novas dinâmicas sociais que afetem o mercado, inovações tecnológicas, transformações regulatórias e impactos ambientais entre outros. As interações são vias de mão dupla, multilaterais, exigindo governança, adaptação e inovação, para assegurar a sustentabilidade dos ecossistemas individual e coletivamente considerados.

Howard T. Odum, ecologista norte-americano, desenvolveu uma abordagem inovadora em seu livro Environmental Accounting: Energy and Decision Making (1995). Ela se baseia na ideia de que todos os fluxos de energia e materiais em um sistema podem ser convertidos em uma unidade comum chamada emjoule ou joule de emergia solar" – sej. Isso permite uma avaliação integrada dos impactos ambientais e da sustentabilidade de processos e produtos.

A contabilidade emergética considera não apenas a energia direta utilizada, mas também a energia incorporada em todos os recursos naturais e serviços ecossistêmicos que contribuem para a produção. Isso inclui, por exemplo, a energia solar necessária ao crescimento das plantas, a energia dos ventos e das marés, e até mesmo a energia humana envolvida nos processos produtivos.

A seguir, apresentamos o diagrama referente ao interessante exemplo de um parque em área urbana, com base na abordagem de Odum:

diagrama

Figura: Energy system diagram of an urban park. NPP: net primary production.
Almeida et al. (2018a). Biagio F. Giannetti, Feni Agostinho, Cecília M. V. B. Almeida and Fábio Sevegnani.
https://www.frontiersin.org/journals/sustainable-cities/articles/10.3389/frsc.2020.00013/full

A abordagem de Howard T. Odum é especialmente útil em estudos de sustentabilidade, pois se propõe a avaliar a eficiência e o custo ambiental real de atividades humanas, com maior nível de profundidade do que se teria computando-se apenas custos financeiros e energéticos imediatos.

2 – ALGUNS ELEMENTOS RELEVANTES DOS ECOSSISTEMAS
Embora os ecossistemas possam variar substancialmente de um contexto para outro, todos compartilham, no mínimo, cinco elementos essenciais, que buscam assegurar, a um só tempo, desenvolvimento, adaptação e estabilidade:

a) Agentes Interdependentes entre si

Um ecossistema só existe quando há diferentes agentes que interagem entre si, com funções variadas. Se um deles deixa de cumprir seu papel ou entra em desequilíbrio, o ecossistema pode sofrer consequências consideráveis.

b) Recursos e infraestrutura

Todos os ecossistemas precisam de recursos e infraestrutura para manter seu funcionamento. Esses tópicos variam de acordo com o ambiente e sua escassez ou a má gestão pode levar ao colapso do sistema.

c) Fluxos de energia, informação ou valor

Para que um ecossistema seja funcional, ele precisa de movimento contínuo de elementos essenciais. Se esses fluxos se interrompem ou se tornam desequilibrados, os impactos podem ser devastadores.

d) Regras e regulamentação

Regras e regulamentos buscam assegurar que o ecossistema opere de forma equilibrada e previsível. Quando essas regras não são respeitadas, surgem desordem, instabilidade e mesmo risco sistêmico.

e) Capacidade de adaptação e evolução

A sobrevivência de qualquer ecossistema depende de sua capacidade de se adaptar às mudanças do ambiente. Sistemas que não conseguem se adaptar tornam-se obsoletos e, no limite, podem deixar de existir.

Em ecossistemas saudáveis, as partes atuam em harmonia. Quando um elemento falha, todo o sistema pode, em tese, colapsar. 

O quadro seguinte combina os cinco ecossistemas apresentados com os cinco elementos que os compõem, por meio de exemplos não exaustivos.

ECOSSISTEMAS CINCO ELEMENTOS ESSENCIAIS
(Passíveis de expansão e refinamentos)
  AGENTES INTERDEPENDENTES ENTRE SI
Naturais Plantas, animais, microrganismos
Urbanos Prefeituras, empresas, organizações comunitárias, cidadãos, meio ambiente
Digitais Empresas de tecnologia, clientes, fornecedores, usuários, desenvolvedores, parceiros, algoritmos
Setoriais Empresas, entidades reguladoras, consumidores, sociedade
Organizacionais Stakeholders, holdings, unidades de negócios, estruturas administrativas, pessoas
  RECURSOS E INFRAESTRUTURA
Naturais Recursos hídricos, minerais, biodiversidade, energia solar
Urbanos Alimentos, água, habitação, saneamento, energia, transporte, saúde, segurança, conectividade digital, espaços públicos e culturais entre outros
Digitais Servidores, data centers, plataformas online, inteligência artificial
Setoriais Capital financeiro, cadeias de suprimentos, infraestrutura industrial e logística
Organizacionais Capital financeiro, modelos de gestão (ferramentas), tecnologias, ativos tangíveis e intangíveis, pessoas
  FLUXOS DE ENERGIA, INFORMAÇÃO OU VALOR
Naturais Fluxo de energia solar, cadeias alimentares, ciclos biogeoquímicos (carbono, nitrogênio, água), transferência de nutrientes
Urbanos Mobilidade urbana, redes de abastecimento (água, energia, alimentos), fluxo de dados, intercâmbio cultural e social, sistemas de saúde e de segurança
Digitais Transmissão de dados, monetização de conteúdo, tráfego na internet
Setoriais Fluxo de capitais, cadeias de suprimentos, transações comerciais, disseminação de conhecimento no setor
Organizacionais Propósito, processos, comunicação
  REGRAS E REGULAMENTAÇÃO
(Além da Constituição Federal e de todo o Ordenamento Jurídico)
Naturais Leis naturais da termodinâmica, do equilíbrio ecológico e da resiliência dos ecossistemas
Urbanos Planos Diretores, legislações urbanísticas, normas de mobilidade e transporte, políticas de habitação, saúde e segurança pública
Digitais Políticas de privacidade, governança da internet, regras de uso de inteligência artificial
Setoriais Regulamentações setoriais, regulações de mercado, certificações e padrões de qualidade
Organizacionais Ética, códigos de conduta, governança corporativa, Modelo de Gestão SustentáveL (MGS), normas de compliance, contratos
  CAPACIDADE DE ADAPTAÇÃO E EVOLUÇÃO
Naturais Resiliência dos biomas, seleção natural, mutações genéticas, mudanças climáticas
Urbanos Expansão planejada, regeneração urbana, integração de novas tecnologias
Digitais Evolução de plataformas, atualização de algoritmos, segurança cibernética
Setoriais Inovação setorial, transição energética, atendimento as novas demandas do mercado, evolução
Organizacionais Inovação, sustentabilidade (busca), gestão de riscos e da cultura, estratégia, projetos, talentos, novas gerações

3 – O ECOSSISTEMA ASSOCIADO À ORQUESTRA SOCIETÁRIA
O ecossistema em questão e seus respectivos elementos estão representados no quadro a seguir.

O ECOSSISTEMA ASSOCIADO À ORQUESTRA SOCIETÁRIA

O Ecossistema Corporativo é o conjunto abrangido pelos Stakeholders, isto é, os públicos relevantes ou estratégicos da organização, pelas Orquestra Societária e Sinfonia Corporativa.

A Orquestra Societária é a organização cidadã que, como tal, orquestra uma sinfonia de grandes resultados – a Sinfonia Corporativa, com propósito e ética, melhores práticas, que promovem a inovação, sustentabilidade e gestão de riscos, em busca de uma administração responsável e sustentável.

OS CINCO ELEMENTOS E ALGUNS DE SEUS ITENS:

1. Agentes Independentes

* Stakeholders

Sócios
  • Controladores
  • Não controladores
Pessoas
  • Conselheiros
  • Executivos
C-Level
  • Demais profissionais
Clientes
Fornecedores
Estado (três poderes)
Gerações futuras e demais

* Estrutura

Holdings
Unidades de Negócios
Estruturas administrativas
Pessoas
...

2. Recursos e Infraestrutura

* Capital financeiro
* Modelo de Gestão Sustentável – Ferramentas
* Tecnologias
* Ativos tangíveis e intangíveis
...

3. Fluxos de Energia, Informação ou valor

* Propósito – sua essência
* Processos
* Comunicação
* Sinfonia Corporativa – sua criação
...

4. Regras e Regulamentação

* Ética
* Governança corporativa
* Modelo de Gestão Sustentável – diretrizes
* Normas de compliance
* Contratos
...

5. Capacidade de Adaptação e Evolução

* Inovação
* Sustentabilidade
* Gestão de riscos
* Gestão da cultura
* Pensamento ecossistêmico
* Estratégia
* Projetos
...

Nota: Os itens dos cinco elementos do Ecossistema Corporativo estão indicados com asteriscos. O pensamento sistêmico (5) e os itens sem negrito não estão escritos na figura.

Comparando-se os dois quadros anteriores, constata-se a presença de sete itens diferenciadores no Ecossistema Corporativo do segundo quadro:

ELEMENTOS-FONTE
DO ECOSSISTEMA CORPORATIVO
ITENS DIFERENCIADORES
DA ORQUESTRA SOCIETÁRIA
Fluxos de energia, informação ou valor 1. Propósito – sua essência
2. Sinfonia Corporativa – sua criação
Regras e regulamentação 3. Modelo de Gestão Sustentável – diretrizes
Capacidade de adaptação e evolução 4. Inovação
  5. Sustentabilidade
  6. Gestão de riscos
  7. Pensamento ecossistêmico

Do quadro-resumo acima resulta que a Orquestra Societária se distingue:

1. Pela existência de um Propósito (onde chegar, ajudando o Planeta nessa trajetória) e de uma Sinfonia Corporativa (resultados extraordinários, em vários níveis) os quais criam fluxos de energia, informação e valor que alimentam – e realimentam –, de forma diferenciada, os esforços corporativos. Repete-se abaixo, por oportuno, a definição da Sinfonia, que inspira e energiza os públicos organizacionais, ao lado do Propósito.

A Sinfonia Corporativa, o Gran Finale, é o conjunto dos grandes resultados corporativos, nas dimensões ambiental, social e econômico-financeira e resulta da governança e de um MGS.

2. Pela existência de um Modelo de Gestão Sustentável (MGS), com diretrizes claras a orientar os esforços corporativos, a exemplo daquelas apresentadas no artigo da edição 288 – Da governança à sinfonia de resultados sustentáveis. Reprisa-se abaixo a definição do MGS.

O Modelo de Gestão Sustentável (MGS) é o estatuto da gestão organizacional, com diretrizes coordenando cinco dimensões – estratégia, estrutura, processos, projetos e pessoas, de maneira que se produza a Sinfonia Corporativa. É a chave para o sucesso organizacional.

3. Pela capacidade de adaptação e inovação, presente nos itens inovação, sustentabilidade, gestão de riscos e pensamento ecossistêmico.

Neste ponto, chamamos a atenção para o pensamento ecossistêmico supracitado, sugerido aos líderes organizacionais, considerando: 1) que o Ecossistema Corporativo se comunica com outros ecossistemas existentes; e 2) que ele pode ser desagregado em ecossistemas derivados

Exemplificando: a estrutura, representada no quadro anterior, pode ser tratada como um ecossistema derivado per se, no qual poderiam ser visualizadas empresas holdings, unidades de negócios e estruturas consideradas relevantes.

Destacamos as potencialidades do conceito de ecossistema na criação de valor para os sócios e os demais stakeholders. Nessa perspectiva, conselheiros e executivos C-level precisam do nexialismo, a capacidade de conectar ideias e integrar conhecimentos, indo além da dicotomia generalista versus especialista. Tal habilidade é crucial para explorar o Ecossistema Corporativo com visão estratégica e criativa, permitindo identificar e orquestrar conexões valiosas.

A exploração de conexões entre dois ecossistemas distintos pode gerar ideias de elevado valor para stakeholders, entre sócios e os demais, promovendo inovações que atendem a múltiplas necessidades e abrem novos mercados. Um exemplo notável aqui apresentado é o da integração entre os ecossistemas setoriais de saúde e tecnologia, que resultou no desenvolvimento de dispositivos vestíveis de monitoramento de saúde, como os smartwatches, bem como da Realidade Aumentada em cirurgias.

Como essas interações têm contribuído para a saúde e criado valor?  Primeiramente, pela identificação de necessidades complementares. A demanda pelo monitoramento e tratamento da saúde em muitas situações de necessidade encontrou resposta na capacidade tecnológica de desenvolver sensores avançados e conectividade móvel.​

Em segundo lugar, destacam-se a busca de inovação, de interoperabilidade e de intercooperação: empresas de tecnologia colaboraram com profissionais de saúde para criar dispositivos que monitoram sinais vitais, atividade física e outros indicadores de saúde em tempo real, com integração de informações de diferentes serviços.

Adicionalmente, destaca-se a expansão de mercados: a colaboração não apenas atendeu às necessidades dos consumidores preocupados com a saúde, mas também abriu novos mercados para empresas de tecnologia e proporcionou ferramentas valiosas para profissionais de saúde.​

A sinergia entre os ecossistemas de saúde e tecnologia exemplifica como a análise e a exploração das interações entre diferentes ecossistemas podem levar à criação de soluções inovadoras para os seres humanos, criando valor para múltiplos agentes.

Além da intercooperação ilustrada entre dois ecossistemas setoriais distintos, saúde e tecnologia, aqui mencionamos um dos exemplos de ecossistemas corporativos frequentemente destacados em palestras pelo publicitário, especialista em inovação e transformação digital e conselheiro Walter Longo, brilhante professor da equipe de formação de conselheiros da Boad Academy: o Sistema ou, melhor dizendo, o Ecossistema Einstein de Ensino.

O Ecossistema Einstein é referência na formação de profissionais de saúde, abrangendo mais do que o Hospital Israelita Albert Einstein e sua excelência. Integra assistência, pesquisa e educação, formando diferenciados especialistas em saúde e oferecendo de cursos técnicos a pós-graduações de alta qualidade. Utiliza técnicas de simulação realística, inteligência artificial e metodologias ativas, proporcionando um aprendizado imersivo e muito qualificado.

Caros leitor, se você observar as organizações onde atua ou atuou, nelas perceberá as características de ecossistemas corporativos ou empresariais, como prefira chamá-las, independentemente do tamanho do negócio. Isso faz sentido, pois a teoria das organizações tem na visão sistêmica (organizações como sistemas abertos) uma de suas três principais referências, junto à visão mecanicista (organizações como máquinas) e à humanística (organizações como espaços de cooperação). Como a realidade é complexa, essas três visões são válidas e coexistem.

Após todos esses raciocínios e exemplos, finalizamos convidando os leitores a se manifestarem sobre este artigo, expressando suas opiniões, críticas e sugestões.


Cida Hess
é Assessora da Presidência da Prodesp para Negócios Estratégicos. Sócia fundadora da Orquestra Societária Business. Palestrante e mentora. Doutora em Engenharia de Produção, com foco em Sustentabilidade, pela UNIP/SP, mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUCSP, economista e contadora, com MBA em finanças pelo IBMEC. Conselheira fiscal e coordenadora do Comitê Econômico e Auditoria (CEA) da FNQ. Conselheira Consultiva. Professora de Finanças para Conselhos da Board Academy e do Legado e Família. Head do Comitê de Inovação e Tecnologia do 30% Club Brazil e Embaixadora da Board Academy. Colunista da Revista RI desde 2014 e do Portal Acionista desde 2019. Conselheira editorial da RI desde 2023. Coautora dos livros ESG: A Orquestra da Longevidade Corporativa (Editora Elite, 2024), Orquestra Societária – a Origem (Editora Sucesso, 2018) e Inovação na Gestão Pública (Editora Saint Paul, 2012).
cidahessparanhos@gmail.com

Mônica Brandão
é Assessora da André Mansur Advogados Associados. Tem atuado como executiva financeira, conselheira de administração, fiscal e consultiva, engenheira de planejamento de sistemas de distribuição de energia elétrica e professora universitária. Mestre em Administração, graduada em Engenheira Elétrica e bacharel em Direito. Certificada como CNPI-P pela APIMEC Nacional, com pós-graduação e especialização na UFMG e no IBMEC, respectivamente, bem como treinamentos internacionais e nacionais, especialmente em Finanças Corporativas, Gestão da Estratégia e Governança Corporativa. Colunista da Revista RI desde 2008 e do portal Acionista desde 2019, integrando o Conselho Editorial da RI desde 2023. Coautora dos livros Do Rascunho ao Livro (Editora Sucesso, 2019), Orquestra Societária – a Origem (Editora Sucesso, 2018), e Visões da Governança Corporativa (Editora Saraiva, 2010).
mbran2015@gmail.com


Continua...