Direito Societário | Diversidade | Economia Verde | Educação Financeira |
Em Pauta | Espaço Apimec Brasil | Gestão | IBGC Comunica |
IBRI Notícias | Livro | Opinião | Orquestra Societária |
Sustentabilidade | Voz do Mercado |
O avanço da inovação e da inteligência artificial (IA) tem gerado novas possibilidades e desafios para as empresas, exigindo dos conselhos de administração uma abordagem muito bem fundamentada. Pesquisa do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), intitulada Perspectiva dos conselheiros e executivos – ambiente de negócios e governança corporativa (2ª edição - 2025), oferece insights valiosos sobre a inclusão do tema na agenda dos colegiados e da gestão das organizações.
Dentre os resultados mais reveladores, destaca-se a importância crescente da inovação e da IA como temas centrais nas discussões estratégicas. De acordo com a pesquisa, 56,7% dos conselheiros e executivos indicam que haverá um aumento significativo nas discussões sobre tecnologia, enquanto 55,4% destacam a IA como um tópico que será mais frequentemente abordado no ano de 2025.
Essa tendência reflete-se não apenas nas grandes corporações, mas também nas pequenas. Para se ter uma ideia, cerca de 62,7% dos respondentes com faturamento de até R$ 20 milhões têm planejado discutir mais a inovação em seus conselhos. Nas empresas de maior porte, com faturamento superior a R$ 1 bilhão, 62,1% dos entrevistados ressaltam que as discussões sobre IA serão ainda mais frequentes. Ou seja, esses dados indicam que, independentemente do tamanho da organização, a IA e a inovação vêm ganhando mais relevância, tornando-se pilares essenciais nas estratégias corporativas.
Os números evidenciam, ainda, que, para os conselhos de administração, a integração da IA nas operações e decisões de negócios já é uma prioridade indiscutível. Contudo, o desafio não reside apenas na adoção da tecnologia, mas na capacidade de os colegiados compreenderem a natureza dos benefícios e riscos envolvidos.
Apesar de 24% dos conselheiros e executivos não se sentirem prontos para discutir o avanço da IA de maneira aprofundada, a pesquisa aponta que as organizações estão mirando a expansão de mercado, investimentos em capital humano e, especialmente, em inteligência artificial, com 30,4% dos participantes mencionando essa área como foco de investimento nos próximos meses. Para mim, isso reforça a necessidade urgente de capacitação e atualização sobre as implicações e significado dessa tecnologia.
A recente publicação “Guia de Inteligência Artificial para Conselheiros de Administração” desenvolvida juntamente por Accenture, IBGC e Microsoft pontua a importância dos administradores (executivos e conselho) definirem, antes da implementação, o que se espera da inteligência artificial (IA), seus riscos e oportunidades, bem como onde e como ela será implementada. Essas análises ajudarão a organização a definir a alocação de capital necessária para essa mudança. A publicação reforça que é preciso identificar como a IA transformará o ambiente de trabalho e a cultura da empresa, bem como o ecossistema e o próprio setor. O capital humano envolvido - pessoas da organização, fornecedores e clientes – precisa ser treinado e preparado para essa mudança.
À medida que a tecnologia evolui rapidamente, os conselheiros precisam ficar mais atentos aos aspectos técnicos e aos impactos sociais, econômicos e ambientais que as soluções baseadas em IA podem gerar. E parece, felizmente, que estão voltando sua atenção para essa agenda.
Entendo que a supervisão da IA seja mais do que uma questão técnica, mas também ética e estratégica. Investidores, reguladores, clientes e parceiros de negócios estão cada vez mais atentos a como as empresas estão integrando a tecnologia em suas operações e tomando decisões com base em seus resultados.
Neste sentido, alguns aspectos precisam ser observados, como a segurança dos dados utilizados na IA. Aqui é preciso estar atento à privacidade das informações utilizadas bem como acompanhar os desvios possíveis dos resultados obtidos. A IA necessita sempre de uma supervisão humana. Vale também acompanhar continuamente sua evolução e o surgimento dos modelos multimodais, de forma a compreender como eles podem conversar entre si para a obtenção de melhores resultados.
Os administradores são responsáveis por garantir que a implementação da IA seja conduzida de maneira ética, transparente e alinhada aos valores e objetivos da empresa, principalmente no tratamento e uso desses dados.
E quanto aos riscos e desafios?
Os desafios regulatórios, a ameaça de discriminação algorítmica, a privacidade de dados e a segurança cibernética são apenas algumas das questões que os conselhos devem monitorar de perto. Além disso, a IA pode transformar a cultura organizacional e a força de trabalho, exigindo que os colegiados conduzam essas transformações de modo responsável, com atenção especial à capacitação e ao engajamento dos colaboradores. Para isso, é essencial que os conselheiros mantenham-se atualizados sobre as melhores práticas de governança e a respeito das mudanças no ambiente regulatório, para tomar decisões bem fundamentadas e eficazes.
A governança da IA, portanto, envolve um desafio multifacetado. Tem potencial para proporcionar uma série de benefícios, como maior eficiência, inovação e competitividade, mas, se não for adequada, pode representar riscos substanciais para a empresa. A gestão equivocada da tecnologia pode resultar em custos elevados, danos à reputação e até comprometer a sustentabilidade da organização.
Assim, investir na capacitação dos conselheiros e em uma governança robusta e ética é essencial para garantir que as empresas sejam bem-sucedidas no contexto de mercados cada vez mais concorridos e permeados por um ambiente regulatório e tecnológico em constante evolução. A inovação e a IA são fatores cruciais para a competitividade e longevidade dos negócios. Por isso, a estrutura de governança corporativa deve estar pronta para enfrentar esse desafio de maneira eficaz e responsável. Os investidores devem estar sempre atentos às companhias que atendem a esses requisitos, pois são as que costumam apresentar o menor risco para o aporte de capital e os melhores níveis de desempenho.
Valeria Café
é diretora-geral do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC).
comunicacao@ibgc.org.br